Secundária de Fafe. "Estes alunos são uns heróis quando chegam à escola"
08-07-2022 - 01:26
 • Isabel Pacheco

Cerca de metade dos 1.200 alunos da secundária de Fafe beneficiam de apoio social. Uma realidade que não impediu que 86% dos estudantes concluíssem o ensino em três anos, o que coloca a escola entre as três com melhor equidade no país.

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Natália Correia é diretora da secundária de Fafe. Uma escola em que os alunos são “heróis”, confidencia à Renascença a responsável pelo estabelecimento de ensino.

Numa altura em que o Ranking das Escolas de 2021 foi divulgado, a diretora descreve um contexto social e económico difícil. “Ouço cada situação que digo: estes alunos são uns heróis quando chegam à escola. Eles são heróis”, garante a professora.

Cerca de metade dos 1.200 estudantes beneficia do apoio social escolar, o que reflete a “fragilidade socioeconómica do concelho”, onde há famílias que não conseguem assegurar aos filhos todas as refeições.

“Reparamos que há alunos que não tomam o pequeno-almoço. Mas eles têm aqui o pequeno-almoço. Ninguém sabe. Só sabe o funcionário do bufete”, conta Natália Correia.

Na maior parte das vezes, o trabalho é feito no “silêncio”, “sem ondas”, revela a diretora, que fala num “agravamento das situações” por causa da pandemia.

Muitas das repostas sociais chegam em articulação com as instituições locais. “Sozinhos não conseguíamos”, garante Natália Correia, que dá o exemplo de uma família de dois alunos que só encontrou a estabilidade após a intervenção da autarquia.

“Há dias tive conhecimento de dois meninos com dificuldades em que só o pai trabalhava. São três filhos. Assim que tive conhecimento falei com a autarquia e, de repente, a mãe já tem trabalho. Neste momento aquela família está estável. Acho que os meninos já têm condições”, revela.

Para o apoio imediato aos estudantes, a escola criou um gabinete próprio. Maria Aureliana integra a equipa que quer dar uma ajuda suplementar aos jovens. “Muitos, só querem desabafar”, adianta a professora de História.

“Ultimamente o que tem chamado mais atenção não são os problemas económicos, mas, sobretudo, psicológicos, de ansiedade. Os alunos procuram muto o gabinete até para conversarem.”

“Sente-se muito as falhas da família. O facto de haver famílias destruturadas. Esses miúdos têm muita necessidade de apoio”, conclui.

Formação para os encarregados de educação

Mas, também, os pais encontram um suporte na comunidade escolar. Em horário pós-laboral, os encarregados de educação têm a possibilidade de receber formação quer na área da economia como na gestão de conflitos.

“Uma das estratégias foi trazer os pais à escola e aumentar, cada vez mais, a vinda deles. Quando vêm à escola aproveitamos, nem que seja meia hora, para que eles possam estar com a nossa psicóloga e ouvir um professor de economia ou de gestão de conflitos para saibam lidar melhor com os filhos e gerir melhorar a sua vida familiar”, explica a responsável pela direção da Secundária de Fafe.

Natália Correia reconhece que as estratégias adotadas nos últimos anos pela escola podem não resolver todos os problemas, mas a professora acredita que fazem a diferença no rendimento escolar dos alunos.

“Não podemos olhar para o aluno e não pensar que atrás dele não há um contexto. Sempre que existe um comportamento menos adequado à escola por parte do aluno vamos encontrar contextos complicados e difíceis”.

Oitenta e seis por cento dos alunos com apoio social da Escola Secundária de Fafe concluíram o ensino em três anos. Indicador que coloca o agrupamento de escolas com um dos três do país com maior nível de equidade, isto é, como sendo um dos que levam os alunos carenciados mais longe.