O Governo recusa apontar culpados no caso de poluição no Rio Tejo, mas a Celtejo, fábrica de pasta de papel instalada em Vila Velha de Ródão (Castelo Branco), vai ser obrigada a reduzir os seus efluentes.
Em conferência de imprensa, esta sexta-feira, depois de uma reunião com várias entidades, João Pedro Matos Fernandes esclarece que, se a redução não resultar numa oxigenação da água do rio, poderá ser necessário suspender o funcionamento da celulose.
“A empresa Celtejo acaba de ser notificada para reduzir em 50% o volume de efluente rejeitado, o que implica a redução da sua actividade durante 10 dias. Nessa data, o valor de oxigénio dissolvido terá que atingir os 5 miligramas por litro. Se passados estes 10 dias este valor não for atingido, poderemos reduzir ainda mais o volume do efluente rejeitado, podendo chegar-se à suspensão temporária da laboração”, disse Matos Fernandes.
"Não estamos a atribuir nenhuma responsabilidade directa à Celtejo neste incidente", esclareceu, porém, o ministro. "Estamos a afirmar que o Tejo mudou, tem menos água e menos capacidade de dissolver a matéria orgânica e não suporta a carga orgânica que hoje está a receber."
Espuma deve-se a desprendimento de sedimentos
Matos Fernandes reuniu-se esta sexta-feira de urgência em Abrantes com responsáveis da EDP, da Águas do Vale do Tejo, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e consultores da Universidade Nova.
Depois da reunião, Matos Fernandes disse aos jornalistas que já se sabe por que razão o rio Tejo surge com espuma e águas negras na zona de Abrantes: é o resultado do desprendimento de sedimentos que estão no fundo das bacias.
“O fenómeno de poluição que hoje sentimos no Tejo é resultado da libertação da matéria orgânica depositada sob a forma de sedimentos no fundo das albufeiras do Fratel e de Belver, provocada por anos de funcionamento das indústrias aí localizadas e da reduzida precipitação do último ano que não diluiu essa carga orgânica”, explicou.
Por isso, Matos Fernandes garante que começa este sábado "o levantamento topo-hidrográfico para perceber a quantidade de sedimentos" que é preciso "retirar do fundo das albufeiras”.
“Na próxima quinta-feira iniciaremos a empreitada de limpeza desses fundos, que demorará sensivelmente um mês”, acrescentou. Ao mesmo tempo, “a EDP comprometeu-se a reduzir a sua actividade de turbinamento ao caudal mínimo, conservando a água nas albufeiras enquanto se procede à limpeza dos fundos”.
A EDP foi instruída no sentido de reduzir a produção de energia e a reter a água nas albufeiras a montante para se proceder à limpeza da bacia do Tejo. Os sedimentos vão ser retirados por seis camiões.
Na segunda-feira, o Ministério do Ambiente terá os resultados de amostradores que foram colocados nas três maiores estações de tratamento de água da zona, e também nas maiores empresas. Finalmente, na quarta-feira, ficam disponíveis os resultados das análises à água e à espuma.
O ministro do Ambiente está convicto de que vai ser possível identificar desta forma as fontes poluentes do rio Tejo.
As queixas de poluição no Tejo são antigas. Em 2016, a Renascença publicou a reportagem "Que espuma é esta que turva o Tejo?" na qual ambientalistas criticaram empresas como a Celtejo por, alegadamente, poluírem o rio.