Macedo vai ganhar o mesmo que Domingues, diz Costa. "Decide quem pode", reage Marcelo
05-12-2016 - 14:08

É uma “questão que está ultrapassada” e não vai ser mudada, diz o primeiro-ministro. "A minha posição é conhecida e não mudou", reage o Presidente da República.

O primeiro-ministro, António Costa, disse esta segunda-feira que a remuneração da administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) é uma “questão que está ultrapassada” e não vai ser mudada. Paulo Macedo vai receber um salário na casa dos 423 mil euros anuais.

António Costa, que inaugurou o novo investimento da fábrica da Renova, em Torres Novas, afirmou que os vencimentos para a administração da CGD não foram feitos “’ad hominem’ para a administração que está a sair”, mas sim para garantir que a Caixa “tenha uma gestão profissional, que possa recrutar no mercado administradores ao nível que qualquer outro banco possa recrutar”.

“Essa é uma opção política que foi tomada, está mantida, vai ser executada”, afirmou quando questionado sobre a reacção positiva do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, à escolha de Paulo Macedo para a presidência da CGD mas com um alerta quanto aos salários da administração do banco público.

Sublinhando que a legislação “está em vigor”, António Costa declarou que agora é essencial concentrar “no que é importante”, ou seja, ter a actual e a nova administração “a executarem o plano de capitalização que está aprovado em Bruxelas” e o plano de reestruturação, “para que a Caixa seja aquilo que todos desejam que seja”.

Confrontado, em Castelo Branco, com a decisão do Governo de manter os critérios salariais definidos para a equipa de António Domingues na Caixa, o Presidente da República desabafou: "Decide quem pode...".

"Eu já defendia uma posição no governo anterior. A minha posição é conhecida e não mudou, mas decide quem pode e uma vez decidido o importante é que o que foi decidido é uma boa equipa, virada para o futuro, que vai entrar e fazer aquilo que os portugueses querem", disse Marcelo.

Passos em “estado de negação”

Nas declarações aos jornalistas em Torres Novas, o primeiro-ministro, instado a comentar críticas do líder do PSD à forma como conduziu o processo da CGD, disse não comentar as “agruras” de Pedro Passos Coelho, porque senão “não fazia outra coisa”.

O antigo primeiro-ministro considera estranho e diz-se “totalmente surpreso” que se tenha chegado à conclusão de que a Caixa Geral de Depósitos precisa de cinco mil milhões de euros. Passos garante que as críticas do PSD ao processo não vão parar e estima que a recapitalização só aconteça no Verão e não em Março,

“Não há dia nenhum que ele não faça uma previsão de uma catástrofe para o dia a seguir”, responde Costa, acrescentando que prefere “concentrar-se” no que um primeiro-ministro deve fazer, “que é procurar antecipar problemas e evitá-los”.

“É o que estamos a fazer. A Caixa tinha problemas escondidos há vários anos. Hoje são problemas que são assumidos, porque só assumindo os problemas podemos ter capacidade de os resolver. O estado de negação nunca resolveu nada a ninguém, como aliás se viu. Tivemos uma saída limpa que nos encheu a todos de orgulho e depois disso já tivemos dois bancos resolvidos e se nada fizéssemos a tragédia do sistema financeiro prosseguiria”, declarou.

Para António Costa, é preciso “não confundir o que são fenómenos absolutamente pessoais de melhor ou menor adequação de personalidades ao quadro legal com problemas estruturais”, aqueles com que tem que se “apoquentar”.

“E o problema estrutural é que tínhamos uma Caixa que precisava de ser capitalizada e tínhamos um Governo em negação dessa realidade. Hoje temos um Governo que assumiu os problemas da Caixa mas também um projecto para resolver os problemas da Caixa e assegurar a todos os portugueses que a Caixa é o que tem quer ser: um grande pilar de estabilidade do nosso sistema financeiro, a garantia de poupança das famílias e um instrumento ao serviço da economia”, disse.

[Notícia actualizada às 15h30, com declarações do Presidente da República]