Estamos a quatro meses das comemorações dos 100 anos das aparições. Está tudo a postos para receber o Papa Francisco?
Está tudo a postos e preparado para receber o Papa Francisco em Maio. É o momento alto da celebração do centenário das aparições. Há também toda a dimensão de motivação dos peregrinos para esse momento tão importante que é a peregrinação juntamente com o Papa Francisco. Esse é trabalho por fazer, é trabalho que se fará até ao próprio dia da vinda do Papa.
O contexto internacional em que vivemos coloca muitas questões ao nível da segurança. Está tudo a ser preparado com as entidades oficiais, como é que tem corrido?
Há muito tempo que a questão da segurança está presente no horizonte das preocupações aqui em Fátima e também há muito tempo que para as grandes peregrinações há todo um processo de contactos com as autoridades para garantir a maior segurança aos peregrinos que aqui acorrem. Obviamente com a vinda do Papa intensificam-se esses processos, mas aquilo que gostaria de deixar como mensagem é que Fátima é um lugar de paz e nós estamos convencidos que é um lugar seguro e tranquilo.
Do ponto de vista religioso e da fé celebrar estes dez anos das aparições é um momento muito especial. Ao longo dos últimos meses, houve imensas iniciativas, colóquios e exposições. Têm sido bons meios de levar a mensagem de Fátima até mais gente?
Nós começámos este processo de preparação e celebração do centenário no final de 2010, portanto foram muitos anos com muitas actividades, com uma riqueza muito grande e uma variedade enorme de propostas, e estamos convencidos que conseguimos falar de Fátima e levar a mensagem de Fátima a muitas pessoas que habitualmente não ouviriam falar da mensagem. Estamos convencidos, também pela adesão das pessoas às propostas que fizemos, que foram as apostas certas e que vamos continuar a ter de procurar encontrar essas novas linguagens para falar de Fátima hoje às novas gerações.
O Santuário de Fátima é designado como “altar do mundo” e têm sido cada vez mais os peregrinos de outros países que vêm até Fátima. Nota-se um aumento do interesse por Fátima?
Para nós, que aqui estamos em Fátima, isso é evidente o incremento do número de peregrinos que aqui acorrem, nomeadamente estrangeiros. Enquanto há alguns anos num mês como o de Dezembro, Janeiro ou Fevereiro, não havia praticamente estrangeiros em Fátima, não havia grupos de outros países inscritos para participar nas nossas celebrações, neste momento temos, em qualquer destes momentos, grupos que se fazem presentes e muitos estrangeiros em Fátima, em peregrinação.
Para nós é significativo, por um lado do quanto a mensagem de Fátima continua a difundir-se no mundo e continua a atingir novas populações, novos fiéis que habitualmente não estavam tão presentes e que agora progressivamente fazem questão de se tornar presentes também em Fátima.
E o conhecimento da própria mensagem de Fátima a sua ligação à paz no mundo, neste contexto tão complicado em que vivemos, também tem servido para aumentar esse interesse?
Não tenho dúvidas, porque esse é um dos aspectos da actualidade da mensagem de Fátima. Se há um aspecto em que hoje se percebe de forma imediata a grande actualidade desta mensagem é precisamente na dimensão da paz. Não será a única, mas é talvez o elemento mais evidente desta actualidade da mensagem. Muita gente, num mundo como o nosso, que, como diz o Papa Francisco, vive o drama de uma guerra mundial por episódios, vê em Fátima precisamente esse lugar que nos vem falar de paz e da promessa de paz que Deus nos faz, promessa que nos chega pelas mãos de Maria e, por isso, esse é um elemento extra de atracção de Fátima hoje em dia. Não tenho dúvidas.
Qual é a relação dos jovens com Fátima?
Temos a percepção de que os jovens estiveram sempre em Fátima. Isto é, não é agora que vêm os jovens a Fátima, sempre se fizeram presentes. Muitas vezes trabalhamos é com ideias preconcebidas daquilo que é o peregrino de Fátima e não contemplamos os jovens, mas a verdade é que os jovens têm vindo como peregrinos, valorizam a experiência da peregrinação.
Temos tido a preocupação de ter ofertas específicas para os jovens, que falem a linguagem dos jovens. Não porque agora venham jovens e antes não vinham, mas porque eles já vinham e nós tínhamos pouco a dizer-lhes a eles directamente e queremos ter alguma coisa a dizer-lhes. Queremos falar-lhes da mensagem de Fátima numa linguagem que seja o mais significativa possível para eles.
E isso tem sido conseguido?
Estamos ainda a fazer caminho. Houve algum esforço da nossa parte, tem havido algumas iniciativas, mas há, sobretudo, um largo caminho ainda a percorrer para continuarmos a falar aos jovens da mensagem de Fátima.
Voltando ao programa comemorativo, o ponto alto, já o dissemos, será o mês de Maio. A vinda do Papa será uma ocasião para muitos jovens estarem aqui presentes?
Não tenho qualquer dúvida de que esta será uma ocasião de uma presença muito numerosa de jovens. Tenho testemunho de vários grupos que se estão já a organizar para marcarem presença, para estarem com o Papa Francisco, para virem aqui em peregrinação fazendo-se peregrinos com o Papa peregrino. Esta percepção é uma percepção que vem também de alguma forma reforçar uma decisão que tínhamos tomado de não promover uma grande peregrinação de jovens algum tempo antes desta peregrinação – era habitual o Fátima Jovem acontecer no primeiro Domingo de Maio -, mas deixarmos para um outro momento essa grande peregrinação jovem, porque temos consciência clara de que os jovens virão, mas virão para estar com o Papa nos dias 12 e 13.
Quem não puder estar no santuário tem hipótese de seguir a visita de outras formas?
Temos prevista a colocação de ecrãs gigantes, com esta percepção de que, numa ocasião como esta, a capacidade do recinto do santuário de Fátima nunca será suficiente para a afluência de peregrinos.
Foi anunciado há poucos dias que terminou a fase diocesana do processo de beatificação da irmã Lúcia e que dentro de um mês esta documentação irá para o Vaticano. Isto não significa que haverá novidades até Maio?
Não queria dizer que era impossível que até Maio houvesse novidades, mas creio que a Congregação da Causa dos Santos desviasse todos os seus recursos humanos para tratar deste processo, mesmo assim era muito pouco viável que houvesse alguma novidade já em 12 e 13 de Maio.
O processo da irmã Lúcia é um processo particularmente complexo e extenso, que tem a ver com o muito que a irmã Lúcia escreveu e viveu, e portanto não é expectável qualquer novidade em relação ao processo para este 12 e 13 de Maio.
E podemos esperar alguma novidade quanto à canonização dos outros dois pastorinhos?
Não temos até à data nenhuma indicação, por isso o que posso dizer é que é ainda possível, mas não temos nenhuma indicação nesse sentido, nem em contrário. Recordo que em relação ao processo de canonização dos pastorinhos, dos beatos Francisco e Jacinta, faltava o reconhecimento de um milagre para o avançar da causa, ou eventualmente uma dispensa de milagre por parte do Santo Padre. Mas, como digo, até à data não temos qualquer indicação nesse sentido.
Mas seria uma boa notícia?
Seria sempre uma boa notícia. Ao longo destes anos de preparação do centenário das aparições, sempre que me foi perguntado se me pareceria bem a canonização dos pastorinhos no 12 e 13 de Maio. Fui dizendo sempre que parecer-me-ia bem se tivesse sido antes, parecer-me-á bem se for depois, ficaremos felicíssimos se for no dia 12 e 13 de Maio.