Vários dos bispos presentes no sínodo sobre a família têm manifestado preocupação com o documento final e sublinham a importância de o Papa Francisco se pronunciar, completando assim o processo.
Tradicionalmente os papas utilizam os documentos finais dos sínodos para elaborar uma exortação apostólica que assume a forma de pronunciamento definitivo. Na semana passada, porém, o cardeal Tagle, de Manila, disse em conferência de imprensa que havia a possibilidade de o Papa não o fazer e assumir o documento final do sínodo como definitivo.
Agora, porém, surgem várias vozes do sínodo a manifestar preocupação com essa possibilidade. Em causa está a metodologia adoptada neste sínodo, que favorece o trabalho em pequenos grupos. Estes grupos produzem relatórios no final do estudo de cada secção do documento de trabalho, o "instrumentum laboris", bem como propostas de emendas que são enviados directamente para a comissão que vai redigir o documento final.
Esta comissão terá, por isso, potencialmente 13 propostas de emenda para cada parágrafo e alguns bispos temem que o resultado não seja o melhor. Essa preocupação está bem expressa em vários dos relatórios divulgados esta terça-feira.
Na conferência de imprensa desta quarta-feira, o cardeal britânico Vincent Nichols falou da importância de o Papa esclarecer a situação. “Acho que, e a minha esperança é essa, que o Papa irá reflectir e emitir um exortação, ou um documento de magistério, essa solicitação está a começar a transparecer nos debates.”
“O meu instinto diz-me que o Papa nos tem pedido e encorajado a falar com muita liberdade, porque tem bem a noção do seu papel. Em segundo lugar, o meu instinto diz-me que ele estabeleceu o jubileu da misericórdia precisamente para criar o contexto em que os seus pronunciamentos definitivos sobre este sínodo possam ser acolhidos.”
Novamente o eurocentrismo
Na conferência de imprensa esteve ainda presente o cardeal arcebispo do Burkina Faso, Phillippe Ouédraogo.
Questionado sobre se o documento tem um enfoque demasiado ocidental, como aliás tem sido apontado por vários outros bispos, o cardeal concordou, dando exemplos.
“Nós vemos, por exemplo, que o desafio dos divorciados recasados e o seu acesso à Eucaristia e ao sacramento da penitência é preocupante na Europa, mas o tema do sínodo não é sobre os divorciados recasados! É preciso uma visão conjunta.”
“A nossa teologia afirma que a Igreja é sacramento universal da salvação. Mas nós sentimos que os textos e a formulação dos artigos têm uma acentuação predominantemente europeia. Apesar de estarmos no coração da catolicidade, temos de escutar a diversidade dos que estão nos países árabes, em África ou na América Latina.”
“Por isso, o essencial, para nós, é escutarmo-nos fielmente, na busca da verdade com muita humildade”, concluiu o cardeal.
O sínodo para a família prossegue em Roma. Os bispos entram agora no estudo da terceira secção do "instrumentum laboris", na qual se incluem os temas mais polémicos, como o acesso aos sacramentos por parte de pessoas em uniões irregulares e o acolhimento dos homossexuais.