“Era uma líder nata”, aponta Elsa Alípio, a comissária da exposição “Maria de Lourdes Pintasilgo. Mulher de um Tempo Novo”, que abre ao público este sábado no Museu da Presidência da República, em Belém.
A mostra reúne documentos e objetos que contam a história da única mulher a exercer o cargo de primeira-ministra em Portugal.
Em entrevista à Renascença, Elsa Alípio começa por explicar que o ponto de partida para a organização desta exposição foi o facto de Maria de Lourdes Pintasilgo ter sido “a primeira mulher a candidatar-se às eleições presidenciais”, corria o ano de 1986.
A exposição pretende mostrar “a riqueza desta mulher”, refere a responsável pela mostra que indica que “quem trabalhou com ela, ficou marcado para sempre” e o seu legado “ainda hoje perdura”. Isso mesmo está espelhado nos testemunhos vídeo que a exposição revela de “personalidades de diferentes quadrantes políticos que falam dela de forma interessante”.
No museu o público vai encontrar uma exposição que mostra o percurso biográfico de Pintasilgo. Mulher com uma “vida muito preenchida” como indica Elsa Alípio, a antiga primeira-ministra “foi uma mulher que lutou toda a vida por causas que ainda hoje estão na ordem do dia”, explica a comissária.
“Desde logo a causa das mulheres, na importância de lhes dar o papel devido. Não se pode esquecer que ela criou a Comissão da Condição Feminina”, lembra Elsa Alípio que explica que no percurso expositivo são mostrados “objetos pessoais”, como “os brinquedos com que brincou”, ou elementos sobre o “percurso escolar de uma aluna brilhante”.
Licenciada “como uma das melhores alunas no Instituto Superior Técnico em Engenharia QuimicoIndustrial”, Maria de Lourdes Pintasilgo assumiu cargos que se destacaram também por ser mulher. Exemplo disso foi o facto de ter sido a “primeira mulher a dirigir um departamento na CUF”, indica Elsa Alípio.
Uma mulher profundamente crente
Nascida em Abrantes a 18 de janeiro de 1930, Maria de Lourdes Pintasilgo foi também pioneira noutros cargos. Foi a primeira e única a representar Portugal na UNESCO e a primeira a ser condecorada com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Na exposição surgem também outras questões mais pessoais, como a sua ligação aos movimentos católicos e, em particular, aos católicos progressistas. Elsa Alípio sublinha que Pintasilgo foi “desde cedo, uma mulher profundamente crente”. Também foi a antiga primeira-ministra quem “introduzir em Portugal o Graal, o movimento das mulheres cristãs”.
Apostada na sua ação no cuidar e na ética, Maria de Lourdes Pintasilgo candidatou-se em 1986 à Presidência da República contra Mário Soares, Salgado Zenha e Freitas do Amaral. Os testemunhos reunidos na exposição revelam uma mulher de uma “alegria contagiante”, indica Elsa Alípio que acrescenta que a mostra reuniu desde material de campanha, até ao hino que não conseguiu fazer com que Pintasilgo vencesse a Mário Soares.
A exposição pode ser visitada até 31 de agosto, no Museu da Presidência da República, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h30 (encerra à segunda-feira). A entrada é grátis mediante aquisição do bilhete para o museu.