“É assim que a Eunice quer ser recordada”. É desta forma que o realizador Tiago Durão resume o documentário “Eunice ou carta a uma jovem atriz” sobre a atriz Eunice Muñoz que tem antestreia este domingo em Lisboa. O filme revisita a vida da artista de 93 anos e mostra o seu lado mais pessoal.
Em entrevista ao programa Ensaio Geral, da Renascença, o realizador desfaz o argumento de que este seja um documentário focado na vida artística de Eunice Muñoz. “Falamos de um documentário em homenagem aos 80 anos de carreira, percebo que se pense imediatamente num documentário sobre a vida ou sobre a obra”, diz Tiago Durão. Para o realizador “toda a gente sabe quem é a Eunice”.
“Toda a gente conhece a Mãe Coragem ou a Zerlina. Portanto, quis mostrar a Eunice de hoje, em sua casa, com a Lídia [neta]. A Eunice na preparação antes de entrar para o palco. Quis mostrar tudo o que se passa hoje e que ninguém tem a oportunidade de ver”, explica Tiago Durão.
Numa altura em que o filme está a pouco mais de um mês de chegar às salas de cinema portuguesas, o realizador faz questão de sublinhar que “é assim que a Eunice quer ser recordada, é este o lugar de memória que ela quer que fique de futuro”.
No documentário surgem em pano de fundo a voz do ator Ruy de Carvalho, o piano de Maria João Pires, a tocar a sonata n.º 14 de Beethoven, ou a voz do ator Luís Miguel Cintra a ler um poema de António Barahona.
“Eunice ou carta a uma jovem atriz” revela a dicotomia na vida da atriz que se estreou no teatro em 1941, na peça Vendaval, de Virgínia Vitorino, com a Companhia Rey Colaço/Robles Monteiro no Teatro Nacional D. Maria II.
“A Eunice que está em casa é muito diferente da Eunice que encontro num camarim”, afirma Tiago Durão que acrescenta, “a Eunice do camarim, é a Eunice do palco, muito mais austera, mais severa do que a Eunice que está em casa. A Eunice que está em casa é uma avó. É uma senhora super doce. A Eunice que está a preparar-se para entrar em palco, é alguém muito concentrado, focado naquilo que vai fazer a seguir. Esta dicotomia é muito interessante”, conclui o realizador que quis traduzir isto no grande ecrã.
Eunice Muñoz está a realizar uma tournée com aquele que é o seu espetáculo de despedida da vida artística. Na peça “A Margem do Tempo”, de Franz Xaver Kroetz a atriz contracena com a sua neta, Lídia Muñoz com quem vive habitualmente.
Tiago Durão que além de realizador do documentário, é também companheiro de Lídia Muñoz e partilha a casa e a vivência com Eunice, explica que reparam que “a Eunice se poupa brutalmente durante todo o seu dia-a-dia, poupa a sua energia, e depois chega ali em cima do palco e entrega tudo o que tem e não tem em prol de um espetáculo”.
Depois da antestreia, “Eunice ou carta a uma jovem atriz” vai ser exibido no DocLisboa na secção Heartbeat entre 21 e 30 de outubro, na sala Manoela de Oliveira, no Cinema São Jorge em Lisboa. Depois o filme chega a mais de 30 salas de todo o país a partir de 4 de novembro. Prevista está também a exibição no Porto/Post/Doc, o festival de documentário do Porto.