O novo secretário-geral do PS , Pedro Nuno Santos, usou o primeiro discurso político no 24º Congresso do PS, que se realiza até domingo em Lisboa, para "malhar" na direita. Não deixou ninguém de fora. Se o PSD é um "vazio", a Iniciativa Liberal é uma "agência de marketing" e tem "um projeto de transformação radical" e o Chega "já defendeu tudo o seu contrário"
Num cenário apoteótico de entronização do novo líder, Pedro Nuno Santos, no final do discurso passeou por todo o palco agradecendo aos congressistas em êxtase. Uma imagem que poderia ser vista num concerto de uma qualquer estrela rock. Antes, numa nota de aviso à navegação socialista, quis dizer que "o capítulo de Costa encerra-se agora".
No desfilar de críticas aos adversários, Pedro Nuno começou por dizer que a direita "mostra-se tão envergonhada da sua história recente que, numa tentativa de se unir, teve de ir ao baú recuperar um projeto amarelecido pela antiguidade ".
Sim, camaradas, o PSD ainda espera pelo diabo, da mesma forma como nós ainda esperamos o apelo de Passos Coelho ao voto no PS.
Para de seguida, voltar a aludir ao "diabo", expressão cunhada por Passos Coelho, para dizer PSD e CDS são "o verdadeiro Diabo que visitou os portugueses durante aqueles 4 terríveis anos".
De baterias apontadas ao PSD afirmou que esta é uma “recauchutada” Aliança Democrática que foi criada à pressão, mas que não pode esconder o estado em que está o seu parceiro principal, o PSD. "A verdade é que ninguém conhece o seu projeto para o país", critica.
O novo secretário-geral considera que "ao fim de mais de ano e meio sob a liderança de Luís Montenegro, temos o vazio ". E concretizou qual: "Vazio de projeto, vazio de liderança, vazio de visão; é o vazio de credibilidade, vazio de experiência, e, como todos já percebemos, vazio de decisão".
E Pedro Nuno diz que a política tem horror ao vazio, e aproveitou para fazer com este argumento ponte para criticar os outros dois partidos de direita: Chega e Iniciativa Liberal. O líder do PS diz que são filhos das políticas de austeridade de Passos Coelho.
IL "uma agência de marketing" e Chega não "é sério"
A mira passou então para a Iniciativa Liberal que Pedro Nuno diz "mais parece uma agência de marketing e publicidade, entretida a criar cartazes alegóricos".
"O certo é que, por detrás de todo aquele espalhafato, esconde-se um projeto de transformação radical da forma como organizamos a nossa vida coletiva", alertou. "Um projeto profundamente individualista, que tenta transformar o individualismo egoísta e indiferente aos outros em pretensos valores morais, e que vê no “choque fiscal” a solução simplista e falsa para todo e qualquer problema da nossa comunidade", enumerou.
O Estado mínimo só funciona para uma absoluta minoria de pessoas: os privilegiados, os que não precisam dos serviços públicos para nada.
Para o fim deixou o Chega, partido que, segundo o secretário-geral socialista, que afirmou "já defendeu tudo o seu contrario".
"Já defendeu o fim da escola pública, da segurança social e do SNS - propostas irresponsáveis que, entretanto, apressou-se a omitir do seu programa. Mas o seu manifesto ainda defende, por exemplo, e cito: “O Chega irá reduzir drasticamente o Estado, colocando-o dentro dos estreitos limites que o liberalismo clássico desde sempre lhe traçou", afirançou.
E rematou afirmando que o partido de André Ventura "não tem qualquer projeto sério para o país nem solução para os problemas do povo". "O seu único objetivo é, primeiro, alimentar-se dos seus medos, inquietações e descontentamentos; depois, amplificá-los", concretizou.
PS terá candidato presidencial próprio
Antes já tinha anunciado que o PS apoiará um candidato [nas presidenciais] como há muito tempo não faz", honrando, na ótica do líder socialista, "os melhores presidentes que Portugal já teve "Mário Soares e Jorge Sampaio".
Pedro Nuno Santos falava pela primeira vez ao Congresso qe foi ao som de "PS, PS, PS" dos congressitas, que o novo líder começou o discurso.
Logo de início, Pedro Nuno disse ao que vinha, quer o PS a ganhar as cinco eleições que se avizinham.
Num primeiro ataque à direita, num discurso muito voltado para a crítica à oposição, Pedro Nuno diz que "os portugueses sabem bem qual é o partido das contas certas. O partido para quem contas certas não significa cortes na certa".
A vez de PNS, encerra-se o capítulo Costa
O novo líder também não deixou de falar do passado e do legado de António Costa. "É por tudo isto que quero dirigir uma palavra, mais do que justificada, de solidariedade e de reconhecimento ao nosso camarada António Costa, por tudo o que fez pelo nosso país, por tudo o que proporcionou aos portugueses", concretizou.
O novo secretário-geral define os oito anos de governação socialista como anos de “mudanças estruturais que não se concretizam em meia dúzia de meses” e “não produzem resultados profundos, claros e duradouros antes de um horizonte mais alargado de meia dúzia de anos”.
Essas reformas que reclama foram “silenciosas” não só por serem “fruto de consenso”, mas porque “correspondiam às aspirações da generalidade dos cidadãos”.
Olhando para o futuro, o secretário-geral declarou que "este capítulo escrito pelos governos socialistas liderados por
António Costa encerra-se agora
". "Outro se iniciará com as eleições de
março próximo. Será um novo capítulo no livro da nossa democracia e do
desenvolvimento do país", acrescentou.
Para Pedro Nuno, “a esmagadora maioria dos portugueses lá em casa e que não fala na televisão sabe que o essencial é introduzir essas mudanças e ser persistente”, perseguindo os objetivos “sem hesitar, sem vacilar, sem desistir”. Mais: “sem governar à vista, ao sabor da corrente, a pensar apenas no hoje esquecendo sempre o amanhã”, uma característica que cola à direita.
Camaradas, este capítulo escrito pelos governos socialistas liderados por António Costa encerra-se agora. Outro se iniciará com as eleições de março próximo.
De seguida, em mais um remoque à direita, e depois de desfilar aquilo que considera serem êxitos seus na ferrovia, lançou uma pergunta: "Sabem porque não nos queixávamos, durante os governos do PSD/CDS, dos atrasos nas obras, camaradas?"
E respondeu: "Era porque não havia obras, antes encerravam-se linhas e desistia-se da ferrovia. Parar, recuar, desfazer é e será sempre muito mais fácil do que decidir, avançar, construir. Aqui está a grande linha entre nós e eles: entre os que decidem, que fazem, que investem no progresso do país e aqueles que nunca passarão de antigos e ultrapassados “velhos do Restelo”", ilustra.
Pedro Nuno Santos demitiu-se do Governo no final de dezembro de 2022, pressionado pelo escândalo da indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis – administradora da TAP que, depois de sair da companhia aérea, era secretária de Estado do Tesouro.
Agora líder dos socialistas, Pedro Nuno venceu as eleições diretas de 15 e 16 de dezembro com 61% dos votos. José Luís Carneiro, o principal concorrente nas eleições internas, teve 37%, enquanto Daniel Adrião apenas contou com 1% dos votos.