O primeiro-ministro israelita declarou este sábado que o país está em guerra, na sequência dos ataques do Hamas a partir da Faixa de Gaza, numa operação batizada Tempestade Al-Aqsa, a que as autoridades hebraicas já responderam com uma contraofensiva que dá pelo nome Operação Espadas de Ferro.
"Cidadãos de Israel, estamos em guerra. Não numa operação, não são rondas de combates, é uma guerra", disse Benjamin Netanyahu, num vídeo difundido nas suas redes sociais.
O grupo que controla o enclave palestiniano desde 2007 já disparou mais de 2 mil foguetes contra território israelita desde a madrugada, dizem as autoridades israelitas; o Hamas reivindica ataques com mais de 5 mil foguetes.
A embaixada israelita em Lisboa fala num ataque "disfarce" com o propósito de os militantes se infiltrarem em Israel. Há já vários relatos de israelitas feitos reféns por elementos do Hamas, que estarão envolvidos em confrontos em pelo menos sete cidades israelitas.
Os serviços de emergência de Israel dizem que pelo menos 40 pessoas morreram nos ataques do Hamas e pelo menos 750 feridos já deram entrada em hospitais do país.
Os media palestinianos indicam que pelo menos 198 pessoas morreram na Faixa de Gaza e cerca de mil feridos, que está a ser bombardeada pelos hebraicos. A Al-Jazeera indica que há "dezenas" de mortos e feridos a dar entrada no Hospital al-Shifa em Gaza.
"Dezenas de aviões de guerra israelitas estão a atacar vários alvos pertencentes à organização terrorista Hamas na Faixa de Gaza", disse o Exército, citado pelas agências de notícias.
"Esperam-nos horas difíceis", adiantou Daniel Hagari, porta-voz das IDF, em entrevista ao Canal 12, reconhecendo que as forças israelitas ainda não retomaram o controlo das comunidades atacadas pelo Hamas por terra.
A mesma fonte indicou que o Exército vai continuar a aumentar os ataques a Gaza. Na rede social X (antigo Twitter), as IDF partilharam um vídeo de um desses ataques contra o que dizem ser alvos do Hamas.
Analistas e a oposição em Israel falam num "falhanço" das autoridades hebraicas em antever o ataque surpresa deste sábado, que coincide com o 50.º aniversário da guerra de Yom Kippur.
"No espaço de várias horas, dezenas de militantes de Gaza passaram a fronteira para o sul de Israel, surpreendendo as posições militares locais. Homens armados raptaram e mataram israelitas nas comunidades fronteiriças do sul, filmando os ataques à medida que avançavam para várias localidades", destaca no Guardian o jornalista Peter Beaumont.
Entretanto, uma fonte ministerial citada pelo Ynet refere o risco de os ataques do Hamas serem uma manobra de diversão para distrair Israel de um ataque vindo do Norte.
No vídeo que divulgou durante a manhã, Netanyahu informou que, "em primeiro lugar", ordenou que "os militares limpem as cidades onde se infiltraram militantes do Hamas" envolvidos em tiroteios com soldados israelitas.
"Isto está atualmente a ser feito. Ao mesmo tempo, ordenei uma ampla mobilização de reservistas e que devolvamos o fogo com uma magnitude que o inimigo nunca conheceu. O inimigo pagará um preço sem precedentes", prometeu.
Do Ocidente chegam palavras de condenação ao Hamas, apelos à contenção e manifestações de solidariedade e apoio a Israel, incluindo do Governo português.
"Condenamos firmemente os ataques terroristas lançadas contra civis pelo Hamas hoje. Israel tem o direito de se defender. Estes ataques nada resolverão, contribuindo apenas para piorar a situação na região. Estamos solidários com Israel e oferecemos condolências pelas vítimas", escreve o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, na rede social X.
O grupo de militantes Hezbollah, do Líbano, diz que está "em contacto direto com a liderança da Resistência Palestiniana e a conduzir uma contínua avaliação dos eventos e o progresso das operações".
Depois das 13h (hora de Lisboa), tanto o Hamas como a Jihad Islâmica alegaram que fizeram vários soldados israelitas reféns. Essa informação ainda não foi confirmada por Israel.
Ao final da manhã, a violência chegou a Jerusalém, cuja parte oriental está sob administração da Autoridades Palestiniana, bem como a Cisjordânia, o outro território palestiniano ocupado por Israel há décadas.
Citado pelo Guardian, Majd al-Abassi, um residente de Silwan, bairro de Jerusalém Oriental, relatou ter visto "jovens homens a marchar com bandeiras verdes, a bandeira do Hamas, depois de terem ouvido as notícias desta manhã".
Em resposta, indica a mesma testemunha, "os soldados israelitas começaram a disparar gás lacrimogéneo contra todos e uma casa pegou fogo".
Em Jerusalém Ocidental, os civis deixaram as ruas desertas, muitos deles abrigando-se em "bunkers", enquanto numerosas tropas patrulham e inspecionam minuciosamente as ruas, parques e estacionamentos de centros comerciais. A segurança está também a ser reforçada na capital israelita, Telavive.
“Acordar com sirenes e bombas”
João Miguel Silva, guarda-redes do Beitar de Jerusalém, relata que acordou ao som das sirenes e das “bombas a rebentar no ar”.
O futebolista português mora com o sogro e os filhos em Jerusalém desde o início do ano, mas está a tentar sair do país e regressar a Portugal.
“Neste momento estamos a preparar tudo para sairmos daqui o mais rápido possível”, diz, à Renascença, o antigo jogador do Guimarães.
Ao acordar a sua primeira preocupação foi com o bem-estar dos filhos, que tinham saído para ir ao parque com o sogro.
“Acordei e liguei-lhe a dizer 'venha rápido para casa'. E estamos aqui desde então, fechados em casa com as janelas fechadas, tudo fechado”, conclui.
[Notícia atualizada às 13h25.]