Foi a partir de França que o catalão, que vive no exílio, fez o anúncio. Carles Puigdemont será candidato às eleições regionais da Catalunha de 12 de maio, e, se as vencer, promete regressar ao Parlamento para a investidura (arriscando ser detido pela justiça espanhola). Com eleição, ou sem eleição, é certo que, durante a atual legislatura, o Junts per la Catalunya irá propor ao governo de Pedro Sánchez um novo referendo pela autodeterminação.
E para que não restem dúvidas sobre as suas prioridades, o antigo presidente da Generalitat — que proclamou a independência da Catalunha em 2017, depois do referendo considerado ilegal pelo Governo espanhol — , vai renunciar a fazer parte das listas para o Parlamento Europeu, onde tem tido assento como eurodeputado.
Durante a semana passada, o seu advogado já tinha avisado que Puigdemont estaria a pensar regressar à Catalunha, caso fosse eleito nas regionais, apesar de arriscar ser preso. A única coisa que o impediria de fazê-lo, seriam os votos dos catalães: “Pode ser que o prendam [quando cruzar a fronteira], mas não vão impedir que seja presidente da Generalitat se quiser ser. Os únicos que o podem impedir são os catalães, quando votarem”, disse Gonzalo Boye à rádio catalã RC1.
Foi a realização do referendo pela independência que fez de Puigdemont um foragido da justiça espanhola e o levou a refugiar-se na Bélgica. Mas com a Lei da Amnistia aprovada — o acordo entre independentistas e Pedro Sánchez em troca dos votos que lhe valeram a investidura como primeiro-ministro espanhol —, a leitura de Boye é que Puigdemont pode ser candidato e até submeter-se a uma eventual investidura.
Aliás, durante o seu discurso, Puigdemont fez questão de lembrar como o seu partido, o Junts per la Catalunya, foi fundamental para Sánchez se manter no poder, apesar de ter sido o PP de Núñez Feijóo o partido mais votado nas eleições gerais espanholas. Sánchez "foi investido graças ao Junts, depois de uma reunião fora do país", disse. "As oportunidades surgiram com as novas circunstâncias políticas que fomos capazes de criar. Aconteceram coisas de grande importância."
Sobre o sonho de ver a Catalunha independente, nada mudou. "Eles sabem que não desistimos de nada e que continuamos a procurar a legalidade do referendo e a declaração de independência. Os partidos espanhóis não são de confiança", sublinhou Carles Puigdemont.
O catalão falou também do exílio autoimposto, afirmando que o tem utilizado para refletir sobre o que correu mal no passado. Apesar disso, e de alguns passos em falso que possa ter dado, acredita que os independentistas não foram derrotados. "Não temos razões para desanimar. Temos muitas coisas de que nos podemos orgulhar. É por isso que estou aqui hoje, para terminar o trabalho e mostrar o que somos capazes de fazer".
Por tudo isto, anunciou que, ainda na atual legislatura, o Junts irá "propor ao governo a realização de um referendo sobre a autodeterminação", sublinhando que para que ele se concretize é preciso apenas vontade política. "Não a tinham com a amnistia e acabaram por reconhecê-la. O que faremos se o Estado não tiver vontade política? Se o caminho da negociação não der frutos, não podemos desistir e a independência realizar-se-á se for essa a vontade dos catalães".
Assim, Carles Puigdemont garantiu que com este anúncio "começa o seu regresso" a Espanha, regresso que "só faz sentido se for para servir o país".
A promessa fica feita: se conseguir maioria parlamentar para ser candidato à investidura, sairá "definitivamente do exílio nesse dia para assistir pessoalmente à sessão plenária do Parlamento e pedir a confiança da Assembleia".