A associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) exigiu esta sexta-feira "explicações públicas" sobre a questão da chefia da Armada, apelando ao primeiro-ministro que faça uma "avaliação séria e profunda" sobre a continuidade em funções do ministro da Defesa.
"Apelar ao sentido de Estado, a bem do superior interesse nacional, do excelentíssimo senhor primeiro-ministro, no sentido de proceder a uma avaliação séria e profunda que lhe permita concluir da viabilidade de continuidade em funções do Senhor Ministro da Defesa Nacional", é uma das deliberações do Conselho Nacional da AOFA, divulgadas em comunicado.
Os oficiais exigem "explicações públicas, cabais e inequivocamente clarificadoras, sobre todo o processo que nos últimos dias abalou o país, não considerando minimamente aceitáveis "lacónicos comunicados" que mais não visam que tentar branquear responsabilidades e transmitir uma mera ideia de que "está tudo sanado e esclarecido"", apontam.
Para a AOFA, na verdade "está tudo mal e muito longe de estar esclarecido aos olhos dos portugueses naquela que se configura, essa sim à vista de todos, como "provavelmente a maior crise institucional das últimas décadas, em Portugal".
Os oficiais lamentam "profundamente que políticas assentes na falta de ética e escrúpulos tenham, neste episódio inaceitável, envolvido de forma tão negativa não só, diretamente, o vice-almirante Gouveia e Melo, mas, igualmente, de forma indireta, o bom nome de todos os vice-almirantes no ativo da Marinha portuguesa, considerando que todos eles têm condições pessoais e profissionais para vir a aceder, a seu tempo, ao cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada".
Na nota, a AOFA reitera a solidariedade com o Chefe de Estado Maior da Armada, almirante Mendes Calado, e manifesta "profundo repúdio pela forma indecorosa e inédita como o senhor ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, procedeu, numa tentativa deliberada de saneamento político de um chefe militar, demonstrando uma total deslealdade institucional para com as Forças Armadas no seu todo e uma deslealdade pessoal perante todos os militares e o Comandante Supremo das Forças Armadas".
Os oficiais reiteram ainda "as denúncias da AOFA sobre a evidência de um processo, em curso, de governamentalização e partidarização das Forças Armadas que, cada vez mais facilitado, decorre do conjunto de recentes alterações a leis estruturantes que regem a Instituição, naquela que ficou conhecida por "Reforma da Estrutura Superior das Forças Armadas".
O Presidente da República recebeu na quarta-feira o primeiro-ministro e o ministro da Defesa, e considerou que "ficaram esclarecidos os equívocos" sobre a chefia do Estado-Maior da Armada, segundo uma nota divulgada por Belém.