Jorge Moreira da Silva assume-se como “veterano das alterações climáticas”, no Governo como ministro do Ambiente de Pedro Passos Coelho ou no Parlamento Europeu como relator permanente neste domínio. No programa “Da Capa à Contracapa” da Renascença desta semana, o actual diretor-geral de desenvolvimento e cooperação da OCDE insurge-se contra um novo discurso demasiado simplista no combate às alterações climáticas.
“Muitas pessoas que são a favor do combate às alterações climáticas estiveram muito ausentes de debates como a fiscalidade verde, introdução da taxa do carbono, remuneração das energias renováveis, o combate à energia nuclear. Aparecem numa perspetiva muito popular e quase populista. Julgo que é preciso ter cuidado com a simplificação desta conversa”, avisa Moreira da Silva que diz não ter encontrado esses protagonistas quando propôs o pacote da chamada “fiscalidade verde” em 2014.
À entrada para o fim-de-semana em que se realiza a Conferência “O Futuro do Planeta” em Lisboa, o ex-ministro social-democrata passa ao ataque e lança diversos desafios para ação dirigidos a quem diz combater as alterações climáticas.
“Quem é que é a favor de taxas de carbono que ponham um preço do CO2 nas coisas? Aí é que eu quero ver quem é que verdadeiramente quem é a favor do combate ás alterações climáticas. Quem é a favor de políticas de adaptação às alterações climáticas que incluam demolições no litoral?”, questiona Moreira da Silva no programa semanal da Renascença em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
O antigo dirigente do PSD diz que “apenas duas pessoas fizeram demolições no litoral em Portugal, eu e Carlos Pimenta. Fiz um programa de demolições no litoral, nomeadamente nas ilhas barreira no Algarve que levantou imensos protestos, estavam previstas 800 casas demolidas em zonas de risco. Foram demolidas 300 casas. A partir daí parou”.
Em debate com a economista Filipa Saldanha, Jorge Moreira da Silva concebe a proteção do litoral como parte integrante do combate às alterações climáticas, bem como uma política de mobilidade que inclua “dissuasão de circulação de veículos no centro das cidades, introdução de sinais de preços para que maior utilização de transporte publico em vez do individual. “Ou vamos dizer que somos a favor de alterações climáticas, mas não nos queremos meter em assuntos difíceis?”
Este é um excerto do programa Da Capa à Contracapa, que pode ouvir na antena da Renascença, no sábado, pelas 9h30.