“Top of mind” é um termo usado no marketing para definir a marca que emerge na cabeça dos consumidores quando se fala de um determinado produto. O especialista em comunicação política Vasco Ribeiro usa a comparação para explicar como o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa se tornou uma “marca” de sucesso entre os portugueses.
“Marcelo, comparado com os outros candidatos, era o que se chama 'top of mind'. Quando se pensava no Presidente da República, imediatamente, o nome dele saltava-nos à cabeça. Mesmo antes de ele ser candidato. Isso comprova-se pela capacidade que teve de penetrar no eleitorado e ter o resultado que teve”, explica Vasco Ribeiro, que é também professor da Universidade do Porto.
Se a imagem de Marcelo é forte, Vasco Ribeiro destaca também o facto de essa imagem corresponder à percepção que as pessoas têm do concreto, daquilo que está para além da imagem. “Há um conjunto de políticos que só projetam imagem, mas, quando se começa a investigar a vida deles, percebe-se que não têm os princípios que projetam”, diz Ribeiro, notando que Marcelo não se enquadra neste grupo, porque "tem densidade" e "percurso politico, profissional e académico sólidos".
Vasco Ribeiro sustenta que a força da imagem que Marcelo projeta é forte a ponto de o Presidente "se dar ao luxo" de subverter algumas das regras de comunicação política que constam dos manuais, assumindo comportamentos disruptivos. Como exemplo, o especialista aponta que, mesmo "sempre omnipresente e estando em todo o lado", Marcelo "consegue preservar a sua vida pessoal".
“Não me parece que ele queira usar a vida pessoal para fins políticos”, defende.
“Outra das regras que Marcelo quebra é a da hiperatividade e consequente desgaste. Não faz períodos de silêncio, isso gera perplexidade na função de Presidente da República que era mais recatada. Em alguns manuais até se diz que se deve fazer um período de silêncio. Ele rompe com isso, quase todos os dias o vemos entrar, quase como se fosse [um poder] executivo”, finaliza.
Omnipresente
Segundo os números, no primeiro ano de presidência, Marcelo não passou um dia sem aparecer nos noticiários televisivos, radiofónicos ou em peças da imprensa. O Presidente esteve citado em 18.342 notícias de jornais ou revistas e 52.280 artigos na Internet. Entretanto, estes dados da consultora Cision já foram largamente superados.
O consultor de comunicação Rui Calafate explica que Marcelo construiu esta imagem através da “evolução natural do espaço televisivo para o espaço presidencial". acrescentando que "quando era comentador na TV, ele já se fazia entender”.
“Apesar de ser um homem extremamente culto e inteligente, nunca tomou para si demasiada erudição. Tentou sempre que as suas opiniões fossem percebidas pelo grande público e dai o sucesso de audiências. Quando tomou o lugar de presidente passou do comentário à ação”, considera.
Calafate pensa que Marcelo representa um corte com o passado, que era necessário na instituição Presidência da República: “Muitas vezes, aparece sem ser enunciado e sem agenda, quase como se fosse uma pessoa normal, e esse lado de normalidade, foi um lado importante para cortar com o afastamento entre os portugueses e a presidência.”
Unanimidade
Sobre a quantidade de vezes que Marcelo nos entra pela casa adentro, Calafate considera que “em tudo o que fazemos na vida, o que é em excesso cansa”.
“Está no meio do mandato e é normal que haja uma enorme unanimidade em volta da sua magistratura, mas há uma frase do Nélson Rodrigues, dramaturgo brasileiro, que diz que a unanimidade é burra”, ilustra.
Ainda assim, considera, que a unanimidade até se justifica, porque, “efetivamente, tem estado bem”.
“No entanto, Marcelo ainda não viveu nenhuma crise”, considera.
A presença "compulsiva" do Presidente em tudo o que seja eventos políticos, culturais, desportivos e, até, nos momentos mais dramáticos é, para Vasco Ribeiro ,“uma atitude de transparência”.
“Do ponto de vista de comunicação política, tal como ocorre no meio empresarial, quanto mais uma entidade comunica menos riscos tem nesse processo. Uma das principais técnicas de gestão de crise é antecipação ou revelar informação. Sempre com cuidados de informação precisa, transparente e tranquilizadora. O Presidente tem vindo a mostrar isso mesmo”, salienta.
O professor da Universidade do Porto afirma que, quando há uma marca que não comunica, “rapidamente se consegue criar boatos à volta dessa marca.”
“A omnipresença de Marcelo responde aos anseios da maior parte das pessoas”, remata Vasco Ribeiro.