Donativos supostamente privados à campanha de Cavaco Silva para o seu segundo mandato na Presidência da República, feitos por altos quadros do Banco Espírito Santo (BES) e seus familiares, terão sido reembolsados pelo Banco, segundo uma investigação levada a cabo pela revista Sábado.
No artigo que faz a manchete da edição desta semana da revista apresentam-se dados que mostram que a campanha de Cavaco Silva recebeu um total de 253 mil euros, no total, de pessoas da órbita do grupo financeiro.
Nos meses seguintes todas essas pessoas acabam por receber, em offshores por elas controladas, transferências no valor exato do donativo feito para a campanha, oriundas da ES Enterprises, que segundo a revista serviria de saco azul para fazer pagamentos que não apareciam depois nas contas oficiais do banco.
Várias das pessoas alegadamente envolvidas admitem que fizeram donativos mas recusam a insinuação de que receberam o dinheiro de volta.
A questão é importante porque a lei que regula os donativos para campanhas políticas obriga a que estas sejam sempre feitas em nome individual, e nunca por empresas. Se, neste caso, os donativos individuais tiverem sido de facto reembolsados isso constitui um apoio do BES e não individual.
Segundo a revista o Ministério Público está a par destas suspeitas e encontra-se a investigá-las. Contudo, como o eventual crime de financiamento ilegal prescreveu em 2016, procura-se outro enquadramento para a acusação, como por exemplo fraude fiscal qualificada e de branqueamento de capitais.
O facto de pessoas ligadas ao Grupo BES terem sido os principais financiadores da candidatura de Cavaco Silva já era conhecida, a novidade estará no facto de tudo não ter passado de um esquema para que fosse o próprio banco a custear o financiamento.
Sublinhando que havia ligações de amizade entre Ricardo Salgado e outros membros do grupo e Cavaco Silva, a revista não insinua que os donativos tenham tido alguma contrapartida por parte do ex-Presidente.