Depois de uma noite “muito difícil”, com cerca de uma dezena de ambulâncias retidas várias horas, à espera que os doentes fossem atendidos nas urgências, a situação está esta terça-feira mais calma, no Centro Hospitalar do Oeste (CHO).
A falta de macas e uma reduzida capacidade das urgências para responder às necessidades originaram uma situação muito complicada, confirmada à Renascença pelo comandante dos Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha, Nelson Cruz.
“O dia de ontem foi particularmente difícil” para a corporação, uma vez que “chegamos a ter seis ambulâncias, cinco de socorro e uma de transporte, retidas sem maca e doentes na fila de espera dentro da ambulância”, relata.
Situação que afetou também outras corporações, segundo Nelson Cruz, tendo chegado a estar “15,16 ambulâncias à porta do hospital”, provocando uma situação de complicada gestão.
“Com as nossas ambulâncias retidas, ficamos impossibilitados de prestar socorro se tal fosse necessário, já que a ambulância, nestas situações, fica inoperacional”, esclarece o comandante dos voluntários.
Das sete ambulâncias da corporação, seis chegaram a aguardar várias horas, paradas, à porta do CHO, como comprova o dirigente.
“Uma das nossas ambulâncias teve a maca retida das 13:00 às 19h15, outra das 13:57 às 23:00, outra das 14:18 às 23:00, outra ainda das 19:30 às 00:00, outra das 13:58 às 19h15, e outra ambulância retida entre as16:00 às 23:00”, revela.
Afluência às urgências intensificou-se desde o inicio de dezembro
Ontem à noite, segundo constatou a Lusa no local, seis ambulâncias estavam pelas 23:00 retidas há várias horas à espera de que os doentes fossem atendidos na urgência de doentes respiratórios das Caldas da Rainha do Centro Hospitalar do Oeste.
Às 23:00 horas de segunda-feira, estavam à porta da urgência Covid das Caldas, duas ambulâncias dos bombeiros de Torres Vedras, desde as 12:30 e 14:00, duas da Benedita, desde as 18:00 e as 21:00, e uma de São Martinho do Porto, desde as 17:00, e uma ambulância de transporte de doentes.
Os doentes aguardam há várias horas dentro dos veículos à espera de serem atendidos, depois de terem efetuado triagem.
Já na urgência geral de Caldas da Rainha, encontravam-se em espera duas ambulâncias de Caldas da Rainha, mas, de acordo com os bombeiros, chegaram a estar retidas 16 macas deixadas por ambulâncias de várias corporações de bombeiros da região.
O comandante dos bombeiros de Torres Vedras, Hugo Jorge, confirmou que uma das duas ambulâncias que estavam na urgência Covid desde as 12:00 tem o respetivo “doente sentado na ambulância porque ainda não tinha sido atendido, por falta de macas e por dificuldades de atendimento” na urgência.
“Já tivemos de trocar de guarnições”, acrescentou a mesma fonte, adiantando que, durante o dia de segunda-feira, treze ambulâncias chegaram a fazer fila de espera à porta da urgência geral das Caldas da Rainha, pelos mesmos problemas.
“Tivemos uma senhora que teve de ser higienizada duas vezes dentro da ambulância por profissionais do hospital, devido aos tempos de espera”, exemplificou.
“Esta situação é o prato do dia”, disse à Lusa o comandante dos Bombeiros de S. Martinho do Porto, João Bonifácio, que, às 23:00, tinha ainda no local uma ambulância e “outra regressou ao quartel, mas sem maca”.
João Bonifácio afirmou já ter questionado o CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) de Coimbra, que “disse não ter conhecimento da situação”, e alertou para “o cansaço dos voluntários que já começam a recusar fazer estes serviços porque sabem que vão ficar retidos horas, muitas vezes para além do seu horário, o que está a criar situações de revolta”.
Já o comandante dos bombeiros do Cadaval, David Santos, afirmou à Lusa que, durante segunda-feira, a corporação teve uma ambulância retida na urgência geral das Caldas da Rainha entre as 08:30 e as 18:30 e teve outra transferida para a urgência Covid do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
“Os poucos meios que temos ficam retidos nas unidades hospitalares e podemos ter situações de socorro e não ter meios nem dentro, nem de fora do concelho”, alertou.
As mesmas fontes adiantaram que a urgência de doentes respiratórios (Covid-19) de Torres Vedras está encerrada desde quinta-feira, por isso as ambulâncias são desviadas pelo Centro de Orientação de Doentes Urgências para Caldas da Rainha ou para outros hospitais.
Trata-se de uma situação estará a acontecer desde o início de dezembro, se tem notado uma maior afluência às urgências gerais e Covid do CHO, o que tem aumentado os tempos de espera para os doentes serem atendidos nas urgências hospitalares.
A Lusa contactou a presidente do conselho de administração do CHO, Elsa Baião, mas esta esteve incontactável
O Centro Hospitalar do Oeste integra os hospitais de Torres Vedras, Caldas da Rainha e de Peniche e detém uma área de influência constituída pelas populações daqueles três concelhos, Óbidos, Bombarral, Cadaval e Lourinhã, e de parte dos concelhos de Alcobaça (freguesias de Alfeizerão, Benedita e São Martinho do Porto) e de Mafra (com exceção das freguesias de Malveira, Milharado, Santo Estêvão das Galés e Venda do Pinheiro).