O empresário Carlos Santos Silva explicou esta sexta-feira, em tribunal, que, ao longo de vários anos, emprestou 510 mil euros ao seu amigo José Sócrates e que desconhecida onde este gastava dinheiro, disse fonte ligada ao processo.
Esta sexta-feira decorreu o terceiro e mais longo dia de interrogatório do arguido Carlos Santos Silva na fase de instrução da Operação Marquês.
Segundo a mesma fonte, quando questionado pelo juiz Ivo Rosa sobre o dinheiro que foi transferido das contas do empresário para o antigo primeiro-ministro, Carlos Santos Silva reiterou que eram amigos e que lhe emprestou 510 mil euros e que Sócrates já lhe devolveu 250 mil.
Disse também que desconhecia o que Sócrates fazia com o dinheiro e em que é que o gastava.
A mesma explicação foi dada para os mais de 400 mil euros pagos pelo empresário para gozo de férias em conjunto, tanto em Portugal e no estrangeiro, adiantou a fonte. O arguido diz que ofereceu as férias ao amigo de longa data.
Outro dos assuntos abordados na sessão desta sexta-feira, adiantou a fonte, foi a compra pelo empresário de mais de 6.500 exemplares do livro 'A Confiança no Mundo', de José Sócrates [segundo o ministério Público gastou 170 mil euros], tendo Santos Silva referido que comprou para oferecer a amigos e porque gostava de ver o livro nos primeiros lugares dos tops de venda.
Sobre a sua casa de Paris, habitada por Sócrates enquanto esteve a estudar, o empresário explicou que foi o responsável pela remodelação, mas que tinha pedido conselhos ao amigo e a um arquiteto, justificando assim o conteúdo das escutas telefónicas nas quais o antigo governante falava dos materiais e das cores a utilizar nas melhorias.
No final de quase sete horas de interrogatório, o advogado de José Sócrates estava satisfeito com o depoimento de Carlos Santos Silva, que disse ter sido muito esclarecedor.
"Fazemos uma avaliação muito positiva destes dias de depoimento, foi muito esclarecedor", afirmou Pedro Delille aos jornalistas.
Carlos Santos Silva é, segundo a acusação, o "testa-de-ferro" de Sócrates tendo colocado nas suas contas bancárias, nomeadamente na Suíça, dinheiro do antigo primeiro-ministro, entregando-o depois em parcelas e em numerário.
Para o Ministério Público, o Grupo Lena obteve benefícios comerciais graças à atuação de José Sócrates enquanto primeiro-ministro e Carlos Santos Silva "interveio como intermediário de José Sócrates em todos os contactos com o referido grupo".
O empresário da Covilhã disponibilizou "sociedades por si detidas" para receber quantias destinadas a Sócrates. A justificação pela mudança de mãos do dinheiro passava pela "prestação de serviços".
Carlos Santos Silva, de 58 anos é acusado de corrupção passiva e ativa, branqueamento de capitais (17 crimes), falsificação de documentos (10), fraude fiscal e fraude fiscal qualificada (3).
Em outubro, no seu interrogatório, o antigo primeiro-ministro defendeu o amigo e disse ao juiz que ele era "honestíssimo".
A Operação Marquês teve início em 19 de julho de 2013 e culminou na acusação a 28 arguidos - 19 pessoas e nove empresas - pela prática de quase duas centenas de ilícitos económico-financeiros.