Os ataques jihadistas no norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado, já fizeram pelo menos 500 mortos, denuncia o bispo de Pemba, D. Luiz Fernando Lisboa.
Em declarações à fundação Ajuda à Igreja que Sofre, o bispo – de origem brasileira – diz que as forças de segurança moçambicanas não estão a ser capazes de conter a violência.
Só na última semana, diz o bispo, seis ataques na província de Cabo Delgado provocaram uma fuga em massa das populações e destruição generalizada numa série de aldeias, a cerca de 120 quilómetros de Pemba. “Uma tragédia”, lamenta o bispo, que admite que o próprio poderá vir a estar na mira dos terroristas.
“Soube que a escola foi queimada, e depois eles destruíram outras casas de comércio [situadas] ali por perto”, disse D. Luiz Fernando Lisboa, referindo-se a uma escola agrícola onde estudam 500 alunos.
“É uma realidade muito triste, que as forças de defesa e de segurança não estão a conseguir conter se não houver uma ajuda internacional.”
Fontes moçambicanas dizem à Renascença que o Governo chegou a contratar mercenários russos do grupo Wagner para ajudar a fazer face aos insurgentes, mas que ainda assim a situação piorou e está agora descontrolada.
“As aldeias estão a ficar vazias, as pessoas não estão a plantar, então isso significa que haverá fome, e nós temos milhares de deslocados internos”, diz o bispo, sublinhando o perigo de uma crise humanitária por causa desta insurgência que dura há mais de dois anos e três meses. A ONU fala já em cerca de 60 mil deslocados internos no norte de Moçambique por causa dos ataques, mas o bispo acredita que o número pode chegar já aos 100 mil.
Cristãos com medo
Por enquanto não há indícios claros de que os grupos estejam a atacar especificamente cristãos. Os alvos tendem a ser instituições civis e governamentais. Mas ainda assim, a comunidade cristã está particularmente apreensiva.
O próprio D. Luiz Fernando diz ter consciência de que poderá ser alvo dos terroristas. “Estou consciente de que isso pode acontecer. Mas, sinceramente, não tenho medo. Não tenho medo. Estou a tentar cumprir o meu papel, tenho procurado dar apoio aos missionários que estão lá, na linha da frente, que estão nesses distritos onde há ataques, e eles têm sido missionários e missionárias muito corajosos porque muitas vezes são aquele oásis que o povo precisa, para ir lá chorar, para reclamar, para contar o seu problema, para buscar algum tipo de ajuda.”
“Então, eu louvo a Deus, agradeço pela coragem que eles têm tido. Nenhum deles abandonou o posto, estão lá e eu não posso nem tenho o direito de ter medo, justamente para os apoiar e para que eles continuem a cumprir a sua missão. E eu tento fazer a minha da melhor maneira possível”, afirma, nas declarações à AIS.