​“Orgulho”? PSD acusa Lacerda Machado de “rombo enorme” nas contas da TAP
12-06-2017 - 16:50

Na Renascença, Diogo Lacerda Machado disse que sente “orgulho”, e não vergonha, pelo que fez na TAP. O PSD ataca: orgulho de quê?

A polémica continua. Depois de Passos Coelho ter classificado de “pouca-vergonha” a nomeação de Diogo Lacerda Machado como administrador da TAP, o advogado defendeu, à Renascença, ter “orgulho” no que fez pela companhia aérea. O PSD volta ao ataque e acusa Lacerda Machado de ter deixado um “rombo enorme” nas contas da TAP.

Durante o fim-de-semana, Passos Coelho falou em “pouca-vergonha” na contratação de Diogo Lacerda Machado para a administração da TAP, tendo ele sido o negociador, em nome do Governo, da reversão da privatização da empresa.

Questionado pela Renascença sobre estas críticas, Diogo Lacerda Machado disse sentir orgulho em tudo o que fez na transportadora e em ter ajudado “a salvaguardar o interesse público”.

O PSD não se dá por satisfeito. “Quando o doutor Diogo Lacerda Machado se refere a que teve muito orgulho ao que fez na TAP, não sei se ele se está a referir ao papel que teve como administrador da Geocapital, no rombo enorme que deixou na TAP em meados da década passada”, afirma o deputado Luís Leite Ramos.

“Nós lembramo-nos muito bem que o contributo do doutor Diogo Lacerda Machado para a saúde financeira da TAP foi fatal e ainda hoje coloca problemas enormes”, reforçou, repetindo a expressão “pouca-vergonha”.

Diogo Lacerda Machado foi membro do conselho de administração da TAP Manutenção e Engenharia Brasil, entre 2006 e 2007, depois de a Geocapital ter constituído uma parceria com a TAP para a compra desta empresa, em 2005, que teve prejuízos elevados. O negócio foi considerado ruinoso e chegou mesmo a motivar uma investigação do Ministério Público

O PSD critica ainda o facto de Lacerda Machado “ter começado a trabalhar em nome do Estado sem nenhum vínculo contratual, apenas com o estatuto de amigo do primeiro-ministro, e ter tido acesso a informação privilegiada, ter representado o Estado em várias reuniões, de uma forma completamente abusiva num negócio que envolve a reversão de um contrato celebrado em nome do Estado”.

CDS pede parecer da CRESAP

À Renascença, Pedro Mota Soares, do CDS, prefere não "fulanizar a questão", apelando a que o Governo divulgue os documentos que sustentam a escolha dos novos administradores da TAP, "depois de toda a opacidade" em torno deste processo.

"Não nos passa pela cabeça que neste processo o Governo não peça o parecer da CRESAP [Comissão de Recrutamento e Selecção para Administração Pública] e parecia-nos que era muito relevante, face ao próprio processo, que o Governo publicitasse o que vier da CRESAP para perceber se há uma adequação do perfil destas pessoas aos cargos para os quais foram indigitados", afirma.

PCP e Bloco insatisfeitos

Também o PCP critica a escolha dos representantes do Estado para empresas públicas como a TAP, considerando que no caso da transportadora aérea nacional o nome de Diogo Lacerda Machado está ligado a “discutíveis opções de gestão”.

“Os nomes indicados para a TAP, onde se inclui Miguel Frasquilho, quadro do PSD que esteve ligado ao BES e à política de privatizações de anteriores governos, e de Lacerda Machado ligado a discutíveis opções de gestão da TAP, entre outros, merece crítica do PCP”, referem os comunistas numa nota divulgada hoje.

Também a líder do BE, Catarina Martins, se pronunciou no domingo sobre este assunto, tendo defendido que o Governo do PS tem que acabar com "velhos hábitos" na nomeação de administradores para empresas públicas e criticou as declarações de Passos Coelho, afirmando que este agiu da mesma forma quando estava a chefiar o executivo.

PS devolve críticas

Na esfera socialista, o líder parlamentar, Carlos César, retribuiu as críticas de Passos Coelho, considerando "perverso e uma pouca-vergonha" o que aconteceu durante o Governo do PSD, quando antigos membros do executivo, depois das privatizações, foram para empresas como EDP e ANA.

"A nomeação de Diogo Lacerda Machado, como representante do accionista público, é um corolário de ter sido ele, justamente, quem representou e actuou em nome do Estado no regresso do capital público à empresa. Está a representar quem antes representou, e muito bem", afirmou à agência Lusa.

O ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, disse, este domingo, que Diogo Lacerda Machado "já deu provas de saber negociar vários dossiês complexos, mas sobretudo saber interpretar bem os interesses públicos".