Um instrumento do robô norte-americano Perseverance, que se encontra na superfície de Marte desde fevereiro, converteu dióxido de carbono da atmosfera em oxigénio, vital para a sobrevivência de astronautas no planeta e o seu regresso à Terra.
A experiência, descrita num comunicado divulgado pela agência espacial norte-americana NASA, que opera o robô, ocorreu em 20 de abril, dois meses depois de o Perseverance (Perseverança) ter pousado em solo marciano, após uma viagem de cerca de sete meses pelo espaço.
O teste, o primeiro de vários, foi feito com um dos instrumentos do robô, o MOXIE, do tamanho de uma torradeira, depois de, um dia antes, um engenho voador, que seguiu com o robô e é parecido com um minúsculo helicóptero, ter descolado e pousado na superfície de Marte, brindando pela primeira vez a História com um voo controlado noutro planeta.
Marte é um planeta inóspito cuja fina atmosfera é composta maioritariamente por dióxido de carbono.
Segundo a NASA, dispositivos como o MOXIE podem um dia ajudar a fornecer ar respirável para os astronautas que permaneçam no planeta e um propelente para foguetões que descolem da sua superfície.
O instrumento separa os átomos de oxigénio das moléculas de dióxido de carbono, que são formadas por um átomo de carbono e dois átomos de oxigénio. Um produto residual, o monóxido de carbono, é lançado na atmosfera marciana.
O processo de conversão de dióxido de carbono em oxigénio requer uma temperatura extremamente elevada. Se se combinar o oxigénio gerado com hidrogénio tem-se água, igualmente essencial para a sobrevivência de astronautas em Marte.
Durante o primeiro teste, o MOXIE produziu pouco mais de cinco gramas de oxigénio, o equivalente a cerca de 10 minutos de oxigénio respirável para um astronauta. O dispositivo, feito com materiais tolerantes ao calor, foi projetado para gerar até 10 gramas de oxigénio por hora.
Em Marte, quatro astronautas precisariam de uma tonelada de oxigénio para respirar durante uma estada de um ano na superfície do planeta, de acordo com o investigador principal do MOXIE, Michael Hecht, do Observatório Haystack do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos.
Transportá-los num foguetão de regresso à Terra exigiria sete toneladas de combustível e 25 toneladas de oxigénio (um foguetão tem de possuir mais oxigénio em relação ao peso da carga para queimar o seu combustível).
"Transportar 25 toneladas de oxigénio da Terra para Marte seria uma tarefa árdua. Transportar um conversor de oxigénio de uma tonelada - um descendente maior e mais potente do MOXIE que poderia produzir as tais 25 toneladas - seria muito mais económico e prático", salienta o comunicado da NASA, que espera que o instrumento do robô Perseverance extraia oxigénio pelo menos nove vezes durante cerca de dois anos, em diversas condições atmosféricas e temperaturas.
Desde 18 de fevereiro em solo marciano, mais concretamente na cratera Jezero, onde terá havido um lago há 3,5 mil milhões de anos, o novo veículo robotizado da NASA vai procurar sinais de vida microbiana passada em Marte e caracterizar a sua geologia e clima, abrindo caminho para a exploração humana do planeta, uma ambição dos Estados Unidos depois do regresso à Lua, apontado para 2024.
Trata-se do primeiro robô que irá extrair e guardar amostras de rocha e poeira da superfície de Marte que serão enviadas para estudo mais detalhado na Terra em 2031 numa outra missão, que contará com a parceria da Agência Espacial Europeia.