Dia 35 de Guerra. Acusações de uso de bombas de fragmentação e número de civis mortos não pára de crescer
30-03-2022 - 20:00
 • João Carlos Malta

Relatório diário das Nações Unidas contabilizou 108 crianças entre as vítimas mortais do conflito até às 24h00 desta terça-feira, mas os números reais serão muito mais elevados, sobretudo nos territórios onde os ataques intensos não permitem recolher e confirmar a informação.

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O 35º dia de guerra na Ucrânia ficou marcado pela acusação da ONU de que as Forças Armadas russas utilizaram, em pelo menos 24 ocasiões, bombas de fragmentação. A mesma organização fez ainda uma atualização do número de mortos e do número de feridos.

O uso de bombas de fragmentação é proibido pela lei internacional, mas está a acontecer em áreas povoadas na Ucrânia desde o início da invasão, denunciou, esta quarta-feira, a Alta-comissária da ONU para os Diretos Humanos.

Nesta quarta-feira, foi também destaque o prédio do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) alvo de bombardeamentos russos, em Mariupol.

"Os ocupantes bombardearam deliberadamente um prédio do CICV em Mariupol", escreveu na sua conta da rede social Telegram Lioudmyla Denisova, responsável pelos direitos humanos no Parlamento ucraniano.

Neste dia, ficamos também a saber que a invasão russa da Ucrânia já provocou pelo menos 1.189 mortos e 1.901 feridos entre a população civil, a maioria dos quais vítimas de armamento explosivo de grande impacto.

Segundo a ONU no relatório diário de vítimas civis confirmadas desde o início da ofensiva militar russa na Ucrânia, a 24 de fevereiro, o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) contabilizou, até às 24:00 de terça-feira (hora local), 108 crianças entre os mortos e 142 entre os feridos.

A Alto-Comissariado da ONU acredita que estes dados sobre as vítimas civis estão, contudo, muito aquém dos números reais, sobretudo nos territórios onde os ataques intensos não permitem recolher e confirmar a informação.

Suspeitas de ataque ucraniano em solo russo

No terreno, houve ecos de explosões num depósito de armas militares russas, na terça-feira à noite, na cidade russa de Belgorod, perto da fronteira com a Ucrânia.

Segundo a agência Reuters, que cita a agência de notícias russa TASS, há vários relatos de explosões ao redor da própria cidade.

O alvo atingido era um campo militar russo temporário perto da fronteira.

Os dados preliminares apontam que o ataque terá tido origem na Ucrânia e terá sido feito via drone ou míssil balístico.

A Ucrânia através de um conselheiro do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que tem participado nas negociações entre os dois países reiterou que um possível acordo com a Rússia apenas poderá ser assinado depois de as tropas russas terem abandonado o país invadido.

Mykhailo Podolyak adiantou que as forças russas devem retirar para as suas posições antes da invasão de 24 de fevereiro para abrir caminho a um acordo de paz que venha a ser colocado a referendo nacional.

Do lado de Moscovo, o negociador-chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, avisou a Ucrânia de que para o Presidente Vladimir Putin o estatuto de independência das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e de Lugansk, de separatistas pró-russos, na região de Donbass, bem como da península da Crimeia (anexada pela Rússia em 2014), são intocáveis.

“Quero sublinhar que a posição de princípio do nosso país em relação à Crimeia e ao Donbass permanece inalterada”, disse Medinsky, numa entrevista à televisão pública russa.

Johnson não confia em Putin

Do Reino Unido chegou também a notícia de que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, avisou que o presidente russo "não é de confiança" quando questionado se o presidente francês, Emmanuel Macron, deve continuar a falar com Vladimir Putin sobre a guerra na Ucrânia.

"É muito importante que a unidade do Ocidente e da NATO seja recordada e priorizada. A questão da negociação com Vladimitir Putin e o valor dessas negociações está em aberto. Na minha opinião, claramente Putin não é de confiança", afirmou, durante uma audição parlamentar esta tarde.

Johnson vincou que é importante que "o que seja que venha a acontecer, deve ser aquilo que os ucranianos querem e cabe a eles decidir o futuro dele".

Já Zelensky pediu que à Europa que encerre os portos marítimos a todos os navios russos.

"A União Europeia, e eu espero que a Noruega, precisa finalmente introduzir a proibição de navios russos que usam portos europeus", disse num discurso vídeo no Parlamento da Noruega

Volodymyr Zelensky justifica o pedido com o facto das Forças Armadas russas terem colocado minas no mar negro, o que representa um risco para todos os países que circulam naquelas águas.

Há uma guerra também a ser travada nas redes sociais, uma delas no Telegram. Mais de 200 mil ucranianos já forneceram informações sobre tropas russas no terreno através de um "chatbot" criado pelo governo da Ucrânia no serviço de mensagens instantâneas Telegram, desde o início da invasão russa ao país.

A informação foi avançada pelo vice-primeiro-ministro e ministro da Transformação digital da Ucrânia, Mykhailo Fedorov, no seu canal naquela rede social.

Papa condena monstruosidade

Em nova intervenção pública sobre a guerra, o Papa Francisco voltou a condenar "a monstruosidade da guerra" e apelou ao fim da "crueldade selvagem". No final da audiência pública, Francisco lembrou em particular as crianças ucranianas que foram acolhidas por diversas instituições italianas.

“Uma saudação particularmente afetuosa dirigida às crianças ucranianas acolhidas pela Fundação Ajudem-me a Viver, na estação Puer e na Embaixada da Ucrânia na Santa Sé”, disse.

“E com esta saudação às crianças, voltamos também a pensar na monstruosidade da guerra e renovamos as nossas orações para que termine esta crueldade selvagem que é a guerra”, acrescentou.