O turismo em questão
19-08-2024 - 06:27

A “sobrecarga turística” supera em Lisboa e no Algarve os níveis registados em cidades como Barcelona e Amesterdão, onde já foram postas em prática algumas restrições ao turismo de massas. Mas entre nós os governantes ainda não reagiram ao descontentamento de muitos residentes.

O produto interno bruto (PIB) de Portugal cresceu 2,3% em 2023. Quase metade dessa subida foi devida ao turismo (1,1 pontos percentuais). O aumento no número de hóspedes foi em 2023 de 13%; para o ano corrente estima-se uma certa estabilização, com um crescimento da ordem dos 5%.

Mas há que contar com protestos de residentes, incomodados com algumas perturbações provocadas pelo excesso (assim é visto) de turistas. Encarecimento da habitação, bem como de bens alimentares, descaraterização de centros das cidades e de bairros históricos, lixo a mais, etc., são o lado negativo do turismo desregulado.

Tem havido protestos deste tipo em Espanha (Barcelona, Málaga, Ilhas Canárias, Ilhas Baleares), Itália (Veneza) e Grécia (Atenas). Por cá já houve protestos de residentes pelo menos no Porto e em Sintra.

O jornal Público, na sua edição do passado dia 15, dedicou duas páginas a este problema. Desse trabalho jornalístico ressalta que a “sobrecarga turística” supera em Lisboa e no Algarve os níveis registados em cidades como Barcelona e Amesterdão, onde já foram postas em prática algumas restrições ao turismo de massas.

Assim, em Lisboa, por cada cem casas, haverá cerca de 6 alojamentos locais e 11 no Algarve. Ora em Barcelona contam-se 1,5 alojamentos locais por cada cem casas; a Câmara de Barcelona já se comprometeu a acabar com este tipo de alojamento até 2028. Em Amesterdão existirão cerca de 1,2 alojamentos locais por cada cem casas.

Claro que a população aprecia o dinheiro e os empregos (embora pagos a níveis muito próximos do salário mínimo nacional) que o turismo proporciona. Os governantes estão avisados, mas parecem não reagir ao descontentamento dos residentes com os excessos ligados ao turismo. Até que seja tarde demais.