Depois de um fim de semana marcado pela presença de milhares de professores nas ruas de Lisboa, a capital volta a ser marcada por protestos no setor da educação.
Pelas contas da Fenprof, a greve distrital agendada para esta segunda-feira está a registar uma adesão acima dos 90%, com escola fechadas e milhares de alunos sem aulas.
É o caso da Escola Pedro Santarém, em Benfica. Pelas 8h30 já se fazem ouvir os apitos de protesto. Há quase uma centena de pessoas à porta da escola, frequentada por 1.500 alunos, do Jardim de Infância ao terceiro ciclo, e que hoje não vão ter aulas.
“Ministro, escuta, os professores estão em luta” vão dizendo os professores, pais e alguns alunos, alinhados e de cartazes (feitos em casa) na mão.
A escola fica na Estrada de Benfica e também é das viaturas que passam por ali que se ouvem buzinadelas de apoio ao protesto.
“Os professores estão no seu limite e este dois anos que vivemos em pandemia vieram agudizar este cansaço”, diz à Renascença Rosária Alves, professora há 32 anos.
Perguntamos a esta professora o que tem de acontecer para acontecer uma pacificação das escolas. Rosária Alves responde sem hesitações. “Tem de acabar o estrangulamento do 5º e 7º escalão”, começa por enumerar, defendendo ainda menos burocracia em cima dos professores e a reformulação do concurso de professores com “critérios bem definidos e reajustados”.
“A profissão de docente tem de passar a ter uma estabilidade que, de facto, não tem”, remata.
Perto de Rosária Alves, está a presidente da Associação de Pais. Clara Barata reconhece que “para os pais é muito constrangedor, é difícil, não têm onde deixar os filhos, mas juntamo-nos a esta manifestação, para uma escola pública melhor”.
“Dentro da escola, os auxiliares, os professores, os alunos, há faltas graves”, lamenta também.
“Isto arrasta-se há muito tempo”
Noutro ponto da cidade, na Penha de França, antes da hora marcada, já à porta da Secundária Luísa de Gusmão e da EB23 Nuno Gonçalves estavam dezenas de professores, alunos e pais à espera do prometido cordão humano entre as duas escolas, que distam uma da outra cerca de 250 metros.
Iam chegando cada vez mais alunos, a ambas as escolas, para perceber que o dia ia ser diferente.
Na EB23, sede do agrupamento, entravam poucos professores e nenhuns alunos, que à porta esperavam por novidades. E já depois da hora de entrada, lá veio a confirmação que não havia aulas, pelo menos da parte da manhã.
Ana Brázia chega de ar desconfiado e com a filha pela mão à porta da escola, com ar desconfiado. Não há aulas? Que seja, diz esta mãe, solidária com os professores.
"Percebo perfeitamente o motivo da greve. Isto arrasta-se há muito tempo e eles têm os motivos deles, que são válidos".
Outros pais, como Vítor Reis, preferem guardar para si a opinião que têm sobre a paralisação dos professores.
Hoje, a filha vai para um ATL, "senão tinha de ir para casa com ela". Admite que nem todos os pais podem suportar essa despesa extra, mas se assim não fosse, "tinha de ligar a dizer que não ia trabalhar ou que ela tinha de ir comigo. O que para ela seria uma seca", sublinha - enquanto a filha remata, referindo que se tivesse a companhia do telemóvel, nem era assim tão aborrecido.
Lamentos pelo desinvestimento na escola pública
A partir da rua frente à escola, duzentos metros a subir e na secundária D. Luísa de Gusmão estão dezenas de outros alunos, pais e professores.
Quase escondida por detrás de um pequeno cartaz de cartão, onde se lê "Respeito!" está Olga Pascoal, docente há 13 anos.
"Têm sido anos muito difíceis, com condições de trabalho a deteriorarem-se. Não somos respeitados. As condições de trabalho não têm sido as melhores", lamenta esta professora, que remate, referindo que é contratada "e espera que seja este o último ano para a norma-travão".
Ana Barreiros, presidente da Associação de Pais da Escola EB23 Nuno Gonçalves e representante dos pais na Secundária Luísa de Gusmão, assegura que "os pais reconhecem que se trata de uma luta bastante justa e válida".
Esta encarregada de educação ressalva que, para além da estabilidade e condições para os professores lecionarem, as escolas deste agrupamento estão em muito mau estado de conservação.
"Tudo reflexo do desinvestimento na escola pública e na educação", remata.