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O som da concertina anuncia a chegada dos beijinhos, das máscaras personalizadas, dos panfletos a Pousade, uma pequena aldeia com cerca de 70 habitantes que vão deixando pedidos às caravanas que passam. A campanha para as autárquicas chegou àquele cantinho do concelho da Guarda.
O senhor Fonseca, de 66 anos, diz que “arruamentos já tem tudo, mas precisava de um jardinzito, Pousade não tem um jardim”, lamenta.
O candidato Sérgio Costa quer convencer o senhor Fonseca e o maior número de eleitores possível. Lidera o movimento independente “Pela Guarda”, tem 45 anos, nasceu em Peso da Régua, saiu aos 18 anos para ir para a Guarda estudar, onde reside há 27 anos. Engenheiro mecânico de formação, em maio deste ano bateu com a porta e entregou o cartão de militante do PSD.
“Eu tenho sempre orgulho no passado, tornei-me militante do PSD em 1995 e sempre orgulhoso do meu passado, mas no dia em que anunciei a minha candidatura, por uma questão de ética, entreguei o meu cartão de militante, porque dei conta de centenas de pessoas a encorajarem-me a avançar para uma candidatura autárquica”, justifica o ex-presidente da Comissão Política Concelhia da Guarda do PSD, candidato independente à Câmara da Guarda, eleito vereador na atual equipa do autarca e candidato Carlos Monteiro
O independente Sérgio Costa considera que “os partidos estão muito enquistados, e as cúpulas não se podem servir das pessoas para resolver os seus interesses”.
“Eu não podia ficar em casa”
Sérgio Costa sentiu o impulso popular para avançar com uma candidatura autónoma e quer conquistar o concelho “para ajudar a tornar uma Guarda melhor”.
“Não tenho ambições nacionais, em querer ser membro do Governo, eu quero simplesmente ajudar a tornar um concelho mais atrativo, puxar mais empresas para cá, eu nunca me cansei durante os seis anos e meio que estive na Câmara da Guarda”, garante.
Mas quando decidiu dar esse passo? Quando lhe passou pela cabeça ser presidente de Câmara? “Foi precisamente quando auscultei este ano as pessoas, em maio deste ano. E com tantas centenas de pessoas, eu não podia ficar em casa. Eu tinha sempre muita coisa a fazer em termos pessoais e profissionais, mas pela Guarda não podia ficar em casa. Será sempre um duelo pela Guarda, que merece ter alguém que conheça as suas ruas, os seus bairros”, revela.
Sérgio Costa contabiliza os quilómetros já percorridos em campanha. “Estamos a terminar a primeira volta pelas aldeias, temos mais de 500 quilómetros a pé em todos os 150 aglomerados populacionais do nosso concelho, e dos 20 bairros da cidade, calcorreamos as ruas e batemos a todas as portas.”
“A nossa candidatura nasceu das pessoas e quer estar com as pessoas e, certamente, no dia 26 de setembro, vamos ganhar as eleições, porque queremos estar com as pessoas”, diz Sérgio Costa, que aposta no slogan de campanha “Pela Guarda”. “É o nosso lema, tão simples quanto isso, e eu já demonstrei o trabalho que consegui fazer, em todas as 43 freguesias urbanas e rurais. Mas eu farei muito mais e peço esse vota de confiança”, apela o candidato, sublinhando estar certo de que vai sair vencedor no dia 26 de setembro. “Estou convicto que vou ganhar, com a sondagem do povo, porta a porta, estamos a trabalhar para a maioria absoluta”, conclui.
Sonho de menino
Também convicto de que vai ganhar as eleições está o atual presidente da Câmara, Carlos Chaves Monteiro, de 52 anos. Natural da Guarda, foi durante 15 anos advogado. É militante do PSD há dois anos, mas desde os 11 que sonha ser o autarca da Guarda.
“Sempre esteve nos meus projetos ser presidente de Câmara da Guarda, desde os 11 anos, porque tenho uma perspetiva da comunidade e da importância de os homens desenvolverem projetos que valorizem a sociedade no seu todo”, defende.
Carlos Chaves Monteiro considera que “a entrega à causa pública é fundamental e a política é a mais nobre das artes”.
“É o desafio de toda a minha vida. Vim por convite, nunca quis um cartão, sempre quis ter uma profissão e depois poder dedicar-me de corpo e alma”, garante o autarca, que, com a saída de Álvaro Amaro para o Parlamento Europeu, assumiu a presidência da Câmara da Guarda.
Sérgio Costa ocupou a vice-presidência, mas as diferenças entre ambos fizeram com que traçassem caminhos diferentes. Para o social-democrata Carlos Monteiro, o movimento independente criado adversário “é um erro de casting”, tendo em conta que o presidente do PSD, Rui Rio, reafirmou o apoio “inequívoco” ao atual presidente da Câmara da Guarda para uma recandidatura.
Erro de casting ou questiúnculas?
“É um erro de casting”, reforça Carlos Chaves Monteiro, afirmando ainda sobre o movimento independente que “é um mau exemplo, o que não se deve fazer em política”
“Todos nós devemos ter ambição, mas não podemos terminar uma equipa por deslealdade, alguém que revoga despachos na ausência do presidente não é leal. Não há visão, as ideias defendidas pelo independente esgotam-se na visão pessoal da política. Fomos os dois sujeitos à decisão de um partido a nível nacional, há uma tentativa de haver divisão. Tenho a convicção clara que vamos ganhar”, afirma Carlos Monteiro.
Foi vice-presidente e atualmente é vereador sem pelouros. Sérgio Costa, do movimento independente “Pela Guarda”, prefere não entrar por questiúnculas.
“Eu só prometo trabalhar para as pessoas. Não há pessoa que duvide da minha palavra, quer à esquerda quer à direita há muitas divisões, muito descontentamento e a melhor forma de absorver o voto dessas pessoas é com este movimento independente”, destaca
O independente prefere não detalhar os motivos que levaram a afastar-se da equipa liderada por Carlos Monteiro. “São razões meramente políticas e as pessoas estão mais interessadas no desenvolvimento da sua terra do que com pequenas questiúnculas entre pessoas, há mais vida para além disso”, observa.
Combate à desertificação e melhor saúde entre as bandeiras
Os dois rivais não querem fazer promessas que não podem cumprir, mas deixam uma lista de desejos para a cidade.
Sérgio Costa quer combater o problema da desertificação, mas “não há santos milagreiros, temos de lutar junto do Estado central, para fazer políticas, mas não dar 500 ou 1000 euros por nascimento, tem de haver um verdadeiro choque fiscal”, defende.
Ainda na lista de prioridades, Sérgio Costa quer lutar pela saúde, apontando o dedo a Lisboa. “Não podemos assistir às promessas do nosso Governo, um presidente da câmara tem de sair da sua zona de conforto e ir aos centros de decisão. O PRR - Plano de Recuperação e Resiliência, fala-se tanto de milhões e o presidente da câmara não pode estar à espera, tem de ir à procura do dinheiro. Lutar todos os dias, já demonstrei do que se sou capaz e sou capaz de muito mais”, assegura Sérgio Costa.
Carlos Chaves Monteiro também tem uma lista de desejos para o concelho de interior. “Uma Guarda mais próxima do investimento, com mais emprego, aumentar a qualidade de vida dos nossos cidadãos. Temos também um hospital privado, com quem assinámos recentemente um protocolo para colmatar a necessidade de médicos especialistas, porque o Governo atribuiu à Guarda apenas seis médicos, num universo de 1.057 para o país”, denuncia o candidato social-democrata.
Além da saúde, o Monteiro elenca outras apostas. “A aposta na habitação, criar e requalificar 260 novas habitações, a transformação da agricultura, através do PRR, apostar numa agricultura empresarial. Estamos a criar condições para que a primeira unidade de hidrogénio verde na região seja instalada na Guarda, numa aposta nas energias baixas em carbono”, desvenda o candidato e atual presidente da câmara, sob o lema “Mais e melhor Guarda”.
Que vença o melhor, diz o povo em Pousade que, além dos nomes de Carlos Monteiro e Sérgio Costa, vai ter no boletim de voto os nomes Francisco Dias, do Chega; Honorato Robalo, da CDU; Jorge Mendes, pelo Bloco de Esquerda; Luís Couto, do PS; e Pedro Narciso, CDS-PP.
Ana Neto, de 51 anos, explora o clube do Grupo Cultural Pousadense. Simpatizante do PSD, olha as caravanas eleitorais que passam e afirma que “é medir forças e que vença o melhor, e que faça pela Guarda que bem merecemos, está tudo esquecido”.