O presidente executivo do Novo Banco considerou esta quarta-feira que foi a "solução possível" a reestruturação da dívida da Promovalor, de Luís Filipe Vieira, pela passagem da dívida para um fundo de investimento.
"Como gestor de recuperações, digo: e depois, havia melhor solução", questionou António Ramalho, após perguntas do deputado do PS João Paulo Correia sobre a reestruturação da dívida da Promovalor recorrendo a um fundo gerido pela C2 Capital Partners (de Nuno Gaioso Ribeiro, ex-administrador do Benfica) e cujas fragilidades foram apontadas num parecer do Banco de Portugal.
Segundo Ramalho, tratou-se da "solução possível" e disse que implicou que fossem dadas garantias adicionais, como um hotel no Brasil.
De manhã, António Ramalho tinha dito que aproveitou uma viagem de caráter pessoal ao Brasil para verificar se existia esse hotel.
"Estava de férias num "resort" à parte e abandonei a minha família durante um dia para ir ao Recife verificar se existia ou não", disse.
A audição de hoje de António Ramalho na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução durou mais de oito horas (desde as 09:30 até às 18:00, com um intervalo reduzido a meio da tarde).
Sobre o direito do Novo Banco a exercer os valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis (VMOC) de 160 milhões de euros, que podem ser convertidos em capital da Promovalor, Ramalho disse que não podia indicar qual a estratégia do banco.
Em audição na mesma comissão, na semana passada, Luís Filipe Vieira disse que aqueles veículos financeiros "vão converter-se em capital" da Promovalor.
"Após o pagamento do fundo, todo o remanescente irá para a Promovalor", disse Vieira, confirmando que o valor servirá "para pagar os 160 milhões de euros" em dívida provenientes dos VMOC.
Ainda sobre Luís Filipe Vieira, Ramalho disse na audição de hoje que o aval pessoal de Vieira à dívida da Promovalor "vale mais não executado que executado".
Ramalho explicou que foram feitas duas avaliações desse aval pessoal e que foi detetado um património com apenas três ativos (a casa para palheiro, uma moradia e uma loja em Alverca).
Sobre o Eurobic, o presidente do Novo Banco afirmou que olhou para o banco que está à venda, mas considerou que o tempo de o comprar não é compatível com o tempo do Novo Banco, que ainda está em processo de reestruturação.
Na terça-feira, em audição na mesma comissão, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse que não vê que o processo de libertação do Novo Banco face à Comissão Europeia seja compatível com o calendário para a venda do EuroBic.
Ramalho foi também questionado pelo deputado do PCP Duarte Alves sobre o Novo Banco ter um depósito bloqueado de 1.500 milhões de euros de várias instituições públicas da Venezuela (dinheiro que pertence ao "povo da Venezuela" e faz falta para vacinas, segundo o deputado comunista).
O gestor disse que não se trata de um bloqueio determinado pelo Governo português mas decorrente de ações da Justiça.
"Não sabemos de que clientes é o depósito, há identificação de mais do que um cliente durante um período confuso. Remetemos as operações todas para a Procuradoria-Geral da República e os bloqueios são de caráter judicial", afirmou.