O presidente do PSD defendeu esta segunda-feira, em Ponte de Lima, que o Governo devia tornar público o relatório oficial sobre o caso do lar de Reguengos de Monsaraz para acabar com a confusão gerada e o cruzamento de acusações.
"A minha pergunta é: Não se pode saber o que diz esse relatório oficial? Temos de continuar nesta confusão, com uns a responsabilizarem os outros sem sabermos exatamente o que aconteceu. Não percebo porque é que não é dado conhecimento público desse relatório e do da Ordem dos Médicos também, embora desse já lemos um ou outro aspeto. Parece-me que quer num, quer noutro, há elementos que se cruzam, designadamente, a fraquíssima qualidade das circunstâncias em que os idosos estavam em Reguengos", afirmou Rui Rio.
O líder do PSD, que falava aos jornalistas à margem de uma visita à Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, disse não compreender por que razão o relatório do Governo "não é tornado público".
"Foi mandado para o Ministério Público, mas por esse motivos não tem de estar em segredo de justiça . Não faz sentido. Era bom que soubéssemos isso para apurar as responsabilidades", afirmou.
Segundo o presidente do PSD, "não há ninguém no país" que tenha percebido o que aconteceu no lar de Reguengos onde morreram 16 pessoas por Covid-19.
"Estou convencido de que, neste momento, não há ninguém no país, um cidadão normal, a começar por mim próprio, que tenha percebido o que se passou, exatamente, em Reguengos de Monsaraz, e quem tem a maior parte da responsabilidade", destacou.
Mais do que "castigar", defendeu, a divulgação daquele documento, serviria "para que se se percebesse, exatamente, o que correu mal para que não corra mal noutras situações".
"Há mais de duas mil instituições. Se a maioria está a funcionar bem e, se há uma ou outra que não está, é bom que passe a funcionar bem. Para isso é preciso termos conhecimento para fazer melhor. É mais sensato do que andar a cruzar acusações. Está agendada uma reunião entre Ordem dos Médicos e o primeiro-ministro. Espero que a reunião possa contribuir para resolver o problema", disse.
Em causa está a reunião hoje solicitada pela Ordem dos Médicos (OM), com caráter de urgência, ao primeiro-ministro, na sequência das declarações de António Costa numa conversa privada com jornalistas do jornal Expresso, que foi agendada para terça-feira.
"Estas afirmações, independentemente de serem proferidas de forma pública ou em privado, traduzem um estado de espírito ofensivo para os médicos e um sentimento negativo por uma classe profissional", refere a OM em comunicado hoje divulgado.
A afirmação refere-se a um pequeno vídeo, de sete segundos, que circula nas redes sociais, que mostra António Costa numa conversa privada com jornalistas alegadamente chamando "cobardes" aos médicos envolvidos no caso do surto de Covid-19 em Reguengos de Monsaraz, que matou 18 pessoas.
Questionado pelos jornalistas, Rui Rio disse não comentar "conversas em 'off', muito menos quando as conversas em 'off' são mandadas para as redações dos outros jornais".
"Há princípios éticos que eu não passo e não comento, pura e simplesmente", sublinhou.
O líder do PSD, que também visitou a Santa Casa da Misericórdia de Arcos de Valdevez, e ouviu o provedor a pedir apoio médico presencial, em vez do telefónico, disse que "Reguengos correu mal, correu muito mal" e que deve servir "para dar maior visibilidade aos lares, ao que eles fazem e sobretudo quais são as carências que eles têm".
Defendeu ainda "um melhor entrosamento entre os Ministérios da Segurança Social e da Saúde", por considerando que "ganham os dois e, sobretudo ganha a sociedade".
"Estamos próximo da época em que as coisas podem ser mais difíceis. Em outubro/novembro vem o frio, as pessoas ficam mais débeis, sobretudo as mais idosas (?) Se em março e em abril não era justo fazer críticas ao Governo, na exata medida em que ninguém era capaz de fazer muito melhor, porque ninguém era apto, à medida que o tempo passa, já temos de exigir do Governo que tudo o que aprendemos, ao longo destes meses, possa efetivamente ser colocado em prática para que em novembro possamos combater a pandemia com uma eficácia muito maior ", alertou.
A pandemia de Covid-19 já provocou pelo menos 809 mil mortos e infetou mais de 23,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.801 pessoas das 55.720 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.