A crise provocada pela invasão russa da Ucrânia está a provocar importantes alterações na política internacional. Mas não só: as políticas nacionais em vários países registam mudanças que resultam daquela crise. Vejamos três exemplos.
Começando por Portugal, a posição do PCP face à invasão da Ucrânia suscitou reações de estranheza e repulsa da parte de muita gente que, até aqui, dava, pelo menos, o benefício da dúvida às opções dos comunistas em matéria de democracia.
Curiosas, também, são as tentativas de algumas pessoas de esquerda para defenderem a posição do PCP. É assim que surgem elogios à capacidade do PCP para assumir uma posição impopular; e alguns apontam a coerência de um partido centenário que ousa desafiar tudo e todos.
É estranho não repararem como tais elogios não estão longe daqueles que a extrema-direita usava para com a inflexível posição de Salazar, sobretudo em matéria colonial. Era o tempo do “orgulhosamente sós” e da recusa liminar de qualquer abertura quanto à descolonização. Viu-se como acabou.
Em França, onde, em abril, se realizam eleições presidenciais, Macron subiu nas sondagens, enquanto os candidatos de extrema-direita, Marine Le Pen e Éric Zemmour, desceram.
Putin financiava a extrema-direita europeia, que não lhe poupava elogios. Agora os políticos desta área pagam um preço político por essa proximidade.
Muito importante é o efeito da crise da Ucrânia na política interna dos Estados Unidos. Mike Pence foi vice-presidente de Trump e confirmou a vitória de Biden na eleição de 2020, suscitando a fúria de Trump. Pois Mike Pence pediu, há dias, aos republicanos que acabem com a mentira de aquela eleição ter sido “roubada” e acrescentou não haver espaço no partido republicano para “apologistas de Putin”.
Numerosos políticos republicanos declararam apoio aos ucranianos contra Putin. É certo que a Fox News ainda transmite comentários favoráveis a Putin; e que Trump acusa Biden de fraqueza, dizendo que, com ele na Casa Branca, Putin não se atreveria a invadir a Ucrânia. Mas pelo menos levantam-se algumas esperanças de que o partido republicano não continue inteiramente nas mãos de Trump.
Lembra o “Economist” que, caso Trump tivesse mesmo ganho as eleições presidenciais de 2020, provavelmente teria já tentado retirar os EUA da NATO.