A presidente do Banco Central Europeu (BCE) garante que a instituição poderá ir "tão longe quanto necessário" para garantir que a inflação estabiliza nos 2% no médio prazo, rejeitando que a instituição esteja a adiar uma reação.
"Vamos continuar este caminho de normalização e iremos tão longe quanto necessário para garantir que a inflação estabiliza na nossa meta de 2% no médio prazo", afirmou Christine Lagarde, no discurso de abertura do segundo dia do Fórum do BCE, esta terça-feira, em Sintra.
Lembrou que a inflação está "indesejavelmente elevada", devido a um "mix complexo de fatores", prevendo "que continue assim durante algum tempo".
"Este é um grande desafio para a nossa política monetária", admitiu. "Neste contexto, temos de agir de forma determinada e sustentada", defendeu. "Mas com a opção de agir de forma decidida sobre alguma deterioração da inflação de médio prazo", sobretudo se houver sinais de as expectativas de inflação se deteriorarem, acrescentou Lagarde.
Taxas de juro a subir
O BCE já tinha sinalizado a primeira subida dos juros em 11 anos no próximo mês, uma medida hoje confirmada.
"Vamos concluir o programa de compra de ativos a 1 de julho e pretendemos subir as nossas três taxas de juro de referência, em 25 pontos base, na próxima reunião, a 21 de julho", indicou Lagarde em Sintra.
"Também anunciámos que esperamos aumentar a taxa básica de juros novamente em setembro e cito: se a inflação de médio prazo persistir ou se deteriorar, será apropriado um incremento maior na reunião de setembro.”
Em setembro os juros podem aumentar 50 pontos base, dependendo da informação disponível sobre a inflação.
Salvaguardas no combate aos spreads
O próximo programa de compra de títulos do Banco Central Europeu irá controlar um aumento desordenado dos spreads de títulos na Zona do Euro, mantendo a pressão sobre os governos para manterem os seus orçamentos em ordem, disse a presidente do BCE.
Sobre o novo instrumento que o BCE está a preparar, para apoiar as economias do Euro em dificuldade, continua a saber-se muito pouco. Lagarde diz que será “eficaz, ao mesmo tempo que será proporcional, e irá conter suficientes salvaguardas para preservar o ímpeto dos Estados-membros para uma política orçamental sólida”.
Com o BCE pronto para aumentar as taxas de juro pela primeira vez numa década, no próximo mês, Lagarde disse que o banco central vai agir de forma gradual, mas com a opção de agir de forma decisiva sobre qualquer deterioração da inflação de médio prazo, especialmente se houver sinais de uma mudança nas expectativas de inflação.
O Fórum anual do BCE, interrompido nos dois últimos anos devido à pandemia, decorre em Sinta até quarta-feira. Conta com governadores de bancos centrais, académicos, economistas e representantes dos mercados financeiros.
Este ano as atenções vão estar viradas para a inflação, a crise energética, as taxas de juro e as implicações da guerra na Ucrânia no mercado internacional e no desenvolvimento económico global.
“A inflação mais alta, principalmente como resultado do aumento dos preços da energia, a escassez de oferta relacionada com pandemia e libertação da procura reprimida, criou um ambiente difícil e incerto para os bancos centrais a nível global. E a invasão da Ucrânia pela Rússia complicou ainda mais as perspetivas económicas, principalmente para a Europa”, destaca o BCE, na sua página dedicada à cimeira.