“Quando olhei para este rebentar de uma guerra que não estava pensada programada, não era expectável, pareceu-me de imediato, que fazia jeito outros cenários, apontar para outro lado para nos distrairmos”, afirmou esta sexta-feira D. Américo Aguiar aos jornalistas, no final da missa que celebrou em Fátima.
Confrontado sobre a pergunta que lançou na homilia da véspera, neste mesmo santuário, “a quem interessa este novo conflito?”, o cardeal Américo Aguiar disse não querer fazer análises de geopolítica Internacional, mas lamentou que, “no fim disto tudo, quem apanha são os mesmos do costume”.
O novo bispo de Setúbal considera que “não deixa de ser estranho que, ao refletirmos sobre estas circunstâncias, agora o mundo, com as suas capacidades de resposta, de apoio e de sinergias se viram agora, infelizmente, para a Terra Santa. E, de um momento para outro, a Ucrânia passa a ser apenas mais uma guerra que está a acontecer”.
Interrogado pelos jornalistas se a Rússia poderia estar por detrás deste calendário, D. Américo limitou-se a dizer que “o cidadão comum sabe ler os sinais dos tempos e ver as coisas acontecerem; confesso que acho muito estranho o calendário em que tudo isto acontece”. E, neste contexto, “a única coisa que podemos fazer é rezar pela paz, pedir a paz, o dom da paz ainda para mais na Cova da Iria, um lugar tão especial que cruza a história de tantos pobres, tantos peregrinos e onde a paz está no centro desta mensagem”.
Não está tudo bem!
O cardeal Américo Aguiar voltou a sublinhar que “não podemos disfarçar que está tudo bem” e pediu para não se alinhar na globalização da indiferença: “Já estamos mais ou menos indiferentes à Ucrânia, já estamos mais ou menos indiferentes ao Sudão, à República Centro-Africana e a tantos outros conflitos, como diz o Papa Francisco, que são Terceira Guerra Mundial aos pedaços. Estamos indiferentes, julgamos que é uma série Netflix, julgamos que é qualquer coisa dos media, mudamos de canal e está-se bem”, denunciou.
Preocupado com o alheamento e insensibilidade de muitos, D. Américo acrescentou: “Não estamos bem e esta hora há crianças, a jovens, a famílias a fugirem da Faixa de Gaza, atendendo ao anúncio que foi feito pelas autoridades para saírem e ao iminente ataque terrestre que vai acontecer”.
Por vezes, “é muito fácil pedirmos que os outros resolvam os conflitos, mas temos que começar por algum lado”, concluiu. “Temos que começar pelo nosso coração, por cada peregrino, que aqui gritaram bem alto ‘pela paz, pela paz, pela paz’ e desejo que todos se convertam a essa mesma paz”.