O Governo parece “um pouco desorientado” e “pouco capaz de responder aos desafios” da escalada da taxa de inflação, afirma Joaquim Miranda Sarmento, presidente do Conselho Estratégico Nacional do PSD.
Em declarações à Renascença, Joaquim Miranda Sarmento alerta que os fatores na base da inflação não vão passar rapidamente e diz que o Governo parece desorientado, e incapaz de responder aos novos desafios.
“Parece pouco capaz de responder aos desafios de um processo inflacionista. Parece até um pouco desorientado, foi quase que apanhado de surpresa, embora as tensões inflacionistas já se tenham começado a sentir desde o verão do ano passado.”
O economista considera que “o nível de incerteza é elevado”, mas a taxa de inflação deverá manter-se acima dos 2% “durante algum tempo”.
“Os fatores que originam a subida da inflação não vão passar rapidamente, mesmo que o conflito na Ucrânia tenha um fim rápido, isso parece-me relativamente evidente”, sublinha.
Joaquim Miranda Sarmento espera que o Governo não caia na ilusão de que pode gerir a inflação momento a momento.
“Pode haver uma certa ilusão, porque um aumento significativo da inflação, num primeiro momento, tem um efeito muito significativo nas receitas fiscais, mas é bom que não se caia nesta ilusão de que a inflação tem efeitos positivos. Pelo contrário. A inflação é um imposto escondido, altamente regressivo, com perdas de poder de compra que podem ser muito relevantes e que atingem, sobretudo, as camadas da população com menores rendimentos.”
Os próximos tempos serão de austeridade? O presidente do Conselho Estratégico Nacional do PSD “não tem dúvidas que vem aí perda de poder de compra”.
“Este ano, o Governo aumentou os funcionários públicos e os pensionistas abaixo de 1% e a inflação de 2021 ficou bastante acima de 1%. Este ano, já fala de uma inflação de 4%, o que significa que tudo o que está no Programa de Estabilidade, entregue há duas semanas, já não tem qualquer valor, mas é muito difícil que o Governo tenha margem para compensar os salários dos funcionários públicos e os pensionistas”, argumenta.
No setor privado, as empresas também estão a sofrer com o aumento do preço da energia e das matérias-primas.
“As tensões inflacionistas vão obrigar o Governo a medidas de austeridade diferentes e que me recordar a crise de 83-85, em que Portugal tinha uma taxa de inflação na ordem dos 30% e o então primeiro-ministro Mário Soares dizia que aumentava os salários em 10%,15%, 20%, mas do ponto de vista do poder de compra real as pessoas tiveram uma quebra significativa”, recorda.
Sobre as medidas anunciadas pelo Governo para atenuar o impacto da subida dos preços, Joaquim Miranda Sarmento não compreende que o Governo tenha demorado tanto tempo para reduzir a carga fiscal sobre os combustíveis, por via do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP).
O Governo começou esta segunda-feira a apresentar aos partidos e aos parceiros sociais as linhas gerais da proposta de Orçamento do Estado para 2022, que pretende entregar na quarta-feira na Assembleia da República.
O presidente da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, afirmou esta segunda-feira que a inflação "ficará à volta dos 4%", acima dos 2,9% previstos no programa de estabilidade.