Miguel, a fatura da água pode ficar mais pesada?
É isso que é defendido no estudo que foi apresentado esta tarde, em Lisboa. Um estudo inédito patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Universidade Católica, que avaliou “O valor económico da água em Portugal”.
De acordo com a investigação, o preço da água deveria subir para os consumidores manterem os gastos, nem sequer é para poupar.
Qual seria o valor desse aumento?
O aumento de preço defendido pelos investigadores é de cerca de 26% até 2030, o que significaria que o metro cúbico passaria a custar, em média, 3 euros e 20 cêntimos, ou seja, mais 83 cêntimos do que atualmente.
Segundo os investigadores, este aumento de preço iria permitir manter o consumo de água aos níveis de 2022.
Não parece ser um aumento muito significativo. Será que iria atingir os objetivos?
De facto, este estudo sugere que aumentar as tarifas será comportável para a maioria das famílias. Ainda assim, o aumento, no final do ano, iria representar cerca de cem euros para um consumo de 120 metros cúbicos.
Os investigadores sugerem também que, acompanhado do aumento do preço, se façam campanhas de informação sobre o esforço que é necessário fazer para poupar água.
Porque os estudos são inequívocos: no nosso país tem chovido cada vez menos.
Quais são os números dessa redução?
Nos últimos 20 anos, a precipitação diminuiu cerca de 20%. Até ao final deste século, prevê-se uma quebra adicional entre 10 a 25%.
Este é um problema a que se juntam outros, nomeadamente a assimetria na distribuição, porque chove menos no sul do território continental, onde a escassez de água levou, de resto, o Governo a definir medidas restritivas no Algarve, para todos os sectores económicos, onde se inclui a agricultura.
Esse é o sector que mais água gasta?
Sim, e de acordo com este estudo, terá de fazer um uso mais racional da água, apesar de o progresso tecnológico ter levado a melhorias: por exemplo, há 30 anos, o regadio gastava 14 mil metros cúbicos por hectare, agora gasta cerca de 4 mil metros cúbicos.
Este estudo permitiu também atribuir um valor ao custo da água usada na agricultura, que depende da região do país e do tipo de cultura.
Pelas contas dos investigadores, o custo da água usada no arroz, em 2022, terá sido de 8 cêntimos. Quanto à água utilizada no abacate, o valor foi superior a dois euros e meio.
Olhando para esses custos, não deveria haver mais medidas restritivas?
De acordo com os investigadores, não. Eles consideram que os racionamentos de água podem conduzir a padrões ineficientes no seu uso, porque pode levar ao açambarcamento e, com isso, ao desperdício.
Eles defendem, isso sim, que é preciso combater o desperdício e melhorar as estruturas de captação, tratamento e distribuição de água.