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O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, demitiu esta quinta-feira o seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no meio da pandemia provocada pelo novo coronavírus e após várias semanas de confronto entre ambos em relação ao isolamento como medida preventiva.
Foi o próprio Mandetta, e não Bolsonaro, a anunciar a sua exoneração.
"Acabo de ouvir do Presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS [Sistema Único de Saúde], de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planear o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar", escreveu o agora ex-governante na rede social Twitter.
Só algumas horas depois o Presidente brasileiro confirmou a demissão, garantido que a saída, ou “divórcio”, foi pacifica. Mas não esconderia as divergências entre ambos.
“Foi realmente um divórcio consensual. Ao longo desse tempo, o ainda ministro [Luiz Henrique Mandetta] defendeu o seu ponto de vista, como médico. E entendeu também a questão do emprego – não a tratou da forma como eu, enquanto chefe do Executivo, achava que deveria ser tratada”, explicou.
Na sua declaração ao pais, Bolsonaro, teve já a seu lado o futuro ministro Nelson Teich – a quem já transmitiu o que pretende do mandato.
“O que eu conversei ao longo desse tempo com o doutor Nelson foi fazer com que ele entendesse a situação como um todo. Sem abandonar o principal interesse, a vida, mas sem esquecer que ao lado disso temos outros problemas, como o desemprego”, afirmou Bolsonaro, numa declaração no Palácio do Planalto, sede do Governo em Brasília.
O médico oncologista Nelson Teich chegou a ser apontado ao lugar de ministro da Saúde durante a campanha eleitoral de 2018.
Reunindo experiência empresarial e formação económica, Bolsonaro vê em Nelson Teich um aliado para impor medidas restritivas de saúde pública menos “pesadas”, não travando a economia brasileira. Bolsonaro pretende ver implementada uma “quarentena vertical”, que preserve apenas os chamados grupos de risco, rejeitando políticas de isolamento social mais abrangentes.
Quase ao mesmo tempo que Bolsonaro apresentava o sucessor, o ministro Luiz Henrique Mandetta, também em conferência de impresa, despedia-se da função.
“Sei que deixo aqui a melhor equipa. Que trabalhem para o próximo ministro tal e qual como vocês trabalharam para mim. Tenho a mais absoluta certeza que a gente lutou um bom combate até aqui. Só que nós estamos só no começo da batalha”, alertou.
A exoneração vem confirmar o desencontro entre Mandetta e Bolsonaro, que se intensificou nas últimas semanas, com o ministro da Saúde a reforçar, diariamente, a importância do isolamento social para travar a disseminação do novo coronavírus, enquanto o Presidente defende precisamente o contrário, chegando a sair para as ruas, para socializar com apoiantes.
Jair Bolsonaro já tinha sido questionado se equacionava demitir Mandetta, mas, contudo, indicou sempre que este não era o momento ideal, devido ao problema que a área da Saúde enfrenta em relação ao novo coronavírus, frisando que qualquer um dos seus ministros pode ser afastado.
No início do mês, o chefe de Estado chegou a afirmar, sem citar nomes, que "algumas pessoas" do seu Governo "de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos", acrescentando que não teria medo nem "pavor" de usar "a caneta" contra eles.
O Brasil ultrapassou na quarta-feira a barreira dos três mil novos casos diários do novo coronavírus, registando o número recorde de 3.058 infetados e 204 mortos nas últimas 24 horas.