Donald Trump disse, há dois dias, que os EUA poderão voltar ao Acordo de Paris sobre limitações à emissão de gás carbónico, para conter o aquecimento global. Acordo assinado em Dezembro de 2015 por cerca de 200 países. O presidente Obama assinou o acordo, mas o seu sucessor considerou-o péssimo para a competitividade americana e afastou dele os EUA, um dos grandes poluidores mundiais. Mas agora Trump afirma de si próprio ser uma pessoa preocupada com o ambiente, que deseja água limpa, ar não poluído, etc. Terá mudado de ideias ou disse o que disse apenas por estar a falar juntamente com o primeiro-ministro da Noruega?
A coerência não é propriamente uma característica do presidente dos EUA. O terrível cenário da Califórnia, onde, depois de mortíferos e enormes fogos florestais, as chuvas e inundações que se seguiram mataram dezenas de pessoas em brutais derrocadas de lama, alguma repercussão terá tido na opinião pública americana. Tornou-se mais difícil negar as alterações climáticas, mesmo para quem classificou o problema do clima uma mera artimanha da China para prejudicar a competitividade das empresas americanas. E uma sondagem desta semana coloca Oprah Winfrey dez pontos à frente de Trump, se agora houvesse uma eleição presidencial.
Esta possível, mas estranha, conversão ecológica de Trump joga mal com as medidas que ele já tomou, por exemplo estimulando o uso do carvão em centrais térmicas de produção de electricidade e a prospecção de petróleo no off-shore profundo. Ou nomeando para chefiar a Agência do Ambiente um conhecido e feroz adversário dos ambientalistas. Talvez alguém lhe tenha explicado que o Acordo de Paris não é um tratado – é um acordo totalmente voluntário (o que, como é óbvio, lhe retira força). Por isso o Acordo de Paris não passa pelo Congresso federal.
É certo que o Acordo de Paris não é renegociável – pelo menos, assim proclamaram em Junho de 2016 a Alemanha, a França e a Itália, porventura tendo na cabeça que o não-tratado de Paris levou 21 anos a redigir e a aprovar. Mas Washington poderia subscrevê-lo e depois aplicá-lo com alguma flexibilidade. O que permitiria atenuar eventuais efeitos negativos para a competitividade das empresas americanas, sem desligar totalmente os EUA do combate ao aquecimento global.
Mas, para ser minimamente credível na sua nova preocupação ecológica, se ela for real, Trump não pode continuar a exibir a sua habitual troça dos ambientalistas. Acresce que, como disse ao jornal britânico on-line The Independent um investigador baseado em Washington, “a administração norte-americana não foi capaz de articular uma crítica ao Acordo de Paris que tome em conta o que esse acordo realmente diz”. O problema está em que boa parte da base eleitoral de Trump não acredita mesmo nas alterações climáticas, como rejeita a teoria da evolução de Darwin ou como recusa vacinar crianças.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus –
Rede Europeia de Rádios.
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