Português com coronavírus já tem sintomas. "Acho que devia ser deslocado para um hospital"
24-02-2020 - 07:00
 • Beatriz Lopes

Adriano Maranhão diz que o seu estado de saúde se agravou e queixa-se de falta de apoio. A sobrelotação nos hospitais impede-o de deixar o navio onde trabalha.

Os sintomas já se sentem no corpo: febre, cansaço e dores musculares. À espera de respostas, Adriano Maranhão continua confinado à cabine de um navio desde a madrugada de sábado, altura em que foi informado de que o teste ao coronavírus tinha dado positivo. À Renascença, o português manifesta preocupação por ver o estado de saúde a agravar-se.

"A minha febre começou a subir, já está nos 37.4, o corpo já está a ficar cansado desde ontem e ainda não recebi comunicado nenhum para saber se saio do navio ou não", conta.

Até à data, a Direção Geral de Saúde (DGS) garantia que as autoridades de saúde japonesas estavam a retirar as pessoas do navio para hospitais de referência de acordo com os sintomas e a situação clínica. No entanto, mesmo com o estado de saúde a agravar-se, Adriano Maranhão não acredita que o seu caso seja resolvido com brevidade.

"A única indicação que eu recebi foi ontem da embaixada portuguesa em Tóquio que estavam a tentar tirar-me daqui, mas, possivelmente, só hoje ou amanhã, terça-feira. Mas também não me disseram em concreto que seria num destes dois dias. Estavam à procura de um hospital porque não há hospitais. Os hospitais que existem aqui à volta não estão a aceitar mais ninguém. Estão lotados e não poderão aceitar mais ninguém."

À Renascença, o português infetado com coronavírus queixa-se ainda da falta de apoio médico a bordo do Diamond Princess.

"Fui ao medical, disse os sintomas que tinha e a única coisa que me deram foi paracetamol e mandarem-me de volta para a cabine para isolamento e não fizeram rigorosamente mais nada. Eu acho que devia ser deslocado para um hospital para ser acompanhado por médicos e receitarem-me medicamentos se necessário."

Adriano Maranhão refere que o único apoio que teve até agora da embaixada portuguesa em Tóquio foi "na alimentação", que fez pressão para que começassem a chegar à cabine refeições a partir de domingo, depois de não ter ingerido nada no sábado.

"A situação já está regularizada. Durante o fim de semana, a embaixada nunca respondeu aos meus mails nem aos da minha esposa. Foi o Presidente da República – contactado pela minha mulher- que conseguiu entrar em contacto com a embaixada, que entrou em contacto com o navio. O navio disse que não tinha conhecimento nenhum do meu isolamento e que ia tratar do assunto da alimentação. Já começaram a fornecer alimentação desde domingo ao almoço, ou seja, estive 24h sem alimentação", refere.

Na cabine de 2,5 metros quadrados que lhe serve de quarto no navio de cruzeiros, Adriano Maranhão vê os dias e as noites esticarem. Apesar de tudo, confessa que, esta segunda-feira, o relógio acelerou quando recebeu a notícia de que podia manter contacto com os demais passageiros infetados.

"O comandante do navio deu-nos duas horas para sairmos da cabine para apanharmos ar fresco porque as autoridades japonesas assim o autorizaram. Dentro da cabine só há quatro paredes por isso facilitou ao pessoal que está infetado apanhar ar, fumar e esticar as pernas", conclui.

Desde que foi detetado no final do ano passado, na China, o coronavírus Covid-19 provocou 2.467 mortos e infetou mais de 78 mil pessoas a nível mundial.

A maioria dos casos ocorreu na China, em particular na província de Hubei, no centro do país, a mais afetada pela epidemia.

Além de 2.442 mortos na China continental, morreram oito pessoas no Irão, quatro no Japão, duas na região chinesa de Hong Kong, cinco na Coreia do Sul, três em Itália, uma nas Filipinas, uma em França, uma nos Estados Unidos e uma em Taiwan.