A morte de José Mário Branco, esta terça-feira, aos 77 anos, deixa um buraco na música portuguesa.
O cantor é aqui recordado por muitos dos que trabalharam com ele ou simplesmente o admiravam.
"O José Mário Branco era inconfundível, na sua voz e na
sua independência. Era um insatisfeito. Nunca aceitou honrarias ou
condecorações em vida. Sentia que havia uma parte de Abril por realizar e por
isso continuou sempre a ser portador dessa insatisfação, em música. Mesmo para
quem estava em quadrantes diferentes do seu, como era o meu caso no 25 de Abril,
ele era uma referência porque nunca deixou de lutar pelas suas convicções. "
Marcelo Rebelo de Sousa
"É com profunda tristeza que lamento a morte de José Mário Branco, figura cimeira da música moderna e da cultura portuguesa, O primeiro álbum - Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades (1971) - foi prenúncio da revolução de Abril e de uma obra empenhada e combativa."
António Costa
"Na sua ação artística, refletiu a desilusão da esquerda revolucionária no pós-PREC, tendo-se tornado marcante a sua obra “FMI”. No mesmo período compôs a canção "Eu vim de longe, eu vou para longe", um manifesto de mobilização cidadã. A sua obra acompanhou a luta da esquerda, pela democracia e contra a injustiça. Em 1999, apoiou a criação do Bloco de Esquerda - partido do qual foi dirigente, tendo integrado a Mesa Nacional. Na sua vida, foi sempre marcante a indignação perante diferentes opressões, o apelo ao combate à exploração capitalista e a defesa da luta popular. O Bloco de Esquerda lamenta o falecimento de José Mário Branco e apresenta as suas condolências a Manuela de Freitas, à família e aos amigos."
Comunicado do Bloco de Esquerda
"Era um misto de todas as músicas que existem neste mundo. Todo ele era música, todo ele era teatro. A capacidade produtiva e de composição do José Mário era de tal maneira rica que se tornava capaz dos melhores juízos de valor em relação ao ser humano. Tudo isso enriqueceu a minha forma de cantar, enriqueceu-me humanamente."
Kátia Guerreiro
"Além da obra que deixa, que eu espero que não caia, que não seja eclipsada, fica também um lado da coerência, entre aquilo que foi o seu posicionamento na sociedade e a sua exigência enquanto músico. É um nome que não se pode ignorar, nem deixar de conhecer. Eu tive essa sorte juntamente com os Trovante de ter coincidido no tempo com nomes como o José Mário.
Trouxe novos conceitos e uma abertura de janela para abordar a música a que ninguém ficou indiferente, aliás, ainda hoje não ficou alheio ao que construiu. Muita gente provavelmente pode não ter o José Mário presente no imaginário, porque de facto o José Mário nunca foi de grandes protagonismos. Essa era a postura do José Mário."
Luís Represas
"Estou em estado de choque. É um amigo que se perde, alguém de quem gostava muito."
Adolfo Luxúria Canibal
"José Mário Branco foi uma figura ímpar da música de intervenção, da canção de Abril, tendo a sua música sido rica no recurso a vários géneros musicais, do cancioneiro popular à clássica, passando pelo rock, o jazz ou a música francesa. Ficarão também na memória coletiva as suas colaborações com outras figuras maiores da música portuguesa, como José Afonso, Fausto Bordalo Dias, Sérgio Godinho, Manuela Azevedo ou Camané."
Ferro Rodrigues
"Aquilo que recordo é uma obra incrível a vários níveis, desde a composição, da obra discográfica, de intérprete, da forma ocmo estava no palco e a forma como influenciou a música portuguesa e aquilo que se faz ainda hoje na música portuguesa e aquilo que era enquanto pessoa, amigo, pai, avô. Era uma pessoa extraordinária.
E a forma como nos cruzámos e como ele esteve tão ligado ao meu trabalho, a influência que teve na minha música e como se integrou no meu projeto musical. Mas mais do que isso é obra dele que é extraordinária e que teve uma influência em toda a música portuguesa."
Camané