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O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considera “absurda” e “sem lógica” a decisão do Reino Unido de suspender os voos com Portugal, medida “súbita e inesperada” cujos fundamentos disse desconhecer.
“Na nossa opinião não tem lógica. Em primeiro lugar é uma medida súbita e inesperada e isso é um primeiro elemento de surpresa negativa. Em segundo lugar, é uma medida que atinge fortemente pessoas que não foram devidamente avisadas para ela. Foi anunciada às 17h00 de um dia para entrar em vigor às 04h00 do dia seguinte”, afirmou à agência Lusa o chefe da diplomacia portuguesa.
“É também uma medida absurda, cujos fundamentos não conhecemos. Suspender voos a partir de Portugal tendo como argumento as ligações entre Portugal e o Brasil é, com todo o respeito, completamente absurdo”, acrescentou, adiantando ter já pedido ao homólogo britânico uma conversa "para entender os fundamentos" da decisão.
Para Santos Silva, a decisão de Londres é “tanto mais absurda” porque, de acordo com o comunicado que saiu do Ministério dos Transportes britânico, a razão de ser da medida é a nova estirpe da Covid-19 que se descobriu no Brasil, “de que, aliás, não há nenhuma evidência que exista” em Portugal.
“Mas a decisão britânica de suspender também os voos prejudica todos os passageiros portugueses e isso não faz sentido”, sublinhou.
Segundo Santos Silva, atualmente, as viagens do Brasil para Portugal podem realizar-se apenas por razões essenciais – viagens de cidadãos portugueses ou residentes em Portugal, ou viagens de cidadãos de países terceiros que têm de se deslocar a Portugal por razões profissionais, agrupamento familiar, de estudo ou outras ponderosas.
“Não há viagens por motivos turísticos. Os passageiros que se deslocam do Brasil para Portugal, qualquer que seja a sua nacionalidade, têm de realizar testes nas 72 horas anteriores ao embarque e esse teste tem de ser negativo. Isso quer dizer que nós temos todos os cuidados nas viagens que são realizados de países terceiros para Portugal, incluindo o Brasil”, argumentou.
“Já pedimos esclarecimentos ao Governo britânico, através da embaixada. Já entrei em contacto com o meu colega britânico [Dominic Raab], e estamos a acertar uma conversa entre os dois para eu compreender a razão desta medida, por ser inesperada, por ser súbita, por não ter nenhum cuidado em relação às pessoas, dado o intervalo de tempo tão curto entre o anúncio da medida e a sua entrada em vigor e, sobretudo, por serem incompreensíveis os seus fundamentos”, defendeu Santos Silva.
Questionado pela Lusa se foi argumentado o facto de Portugal não ter optado pela suspensão dos voos com o Reino Unido após a descoberta da nova estirpe da Covid-19 em solo britânico, o chefe da diplomacia portuguesa disse “acreditar no valor da reciprocidade” e que, à semelhança da União Europeia (UE), foram tomadas medidas.
“Acreditamos no valor da reciprocidade e quando a estirpe britânica foi descoberta, nós, como aliás praticamente todos os Estados da UE, passamos a exigir aos passageiros vindos do Reino Unido um teste negativo à Covid-19 e a limitar as viagens às por motivos essenciais. Mas nunca impedimos o tráfego aéreo entre Portugal e o Reino Unido”, respondeu.
Santos Silva realçou que as pessoas que viajam de ou para Portugal fazem-no “não porque vêm fazer turismo”.
“Vêm porque exercem atividades profissionais, estão a estudar, têm familiares, quer os portugueses no Reino Unido quer os britânicos em Portugal. Precisam de realizar essas viagens não para se divertirem, mas por razões absolutamente atendíveis”, argumentou.
Sobre a conversa com Dominic Raab, o chefe da diplomacia portuguesa disse ter já recebido uma mensagem do homólogo britânico em que foi comunicado que os seus funcionários irão providenciar uma chamada.
“Aguardo que ela se realize”, disse.
O Governo britânico anunciou hoje que vai suspender ligações aéreas de Portugal e Cabo Verde para Inglaterra para tentar impedir a entrada da estirpe brasileira do SARS-CoV-2, e proibiu também chegadas do Brasil e de outros países sul-americanos.
“Tomei a decisão urgente de proibir chegadas da Argentina, Brasil, Bolívia, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela a partir de sexta-feira após informação sobre uma nova variante no Brasil”, anunciou o ministro dos Transportes, Grant Shapps, através da rede social Twitter.
As viagens de Portugal para o Reino Unido também serão suspensas "devido aos seus laços fortes com o Brasil, funcionando como mais uma forma de reduzir o risco de importação de infeções”, acrescentou.