Nas eleições intercalares de novembro os republicanos conseguiram a maioria na Câmara dos Representantes; uma maioria curta: 222 deputados contra 212 deputados do partido democrático. Mas foram precisas 15 votações, ao longo de mais de três dias, para elegerem o presidente dessa Câmara, a que chamam “speaker”. Foi apenas na 15ª ronda que Kevin McCarthy logrou finalmente ser eleito. Até esse momento, a Câmara dos Representantes ficou paralisada.
Como é sabido, a demora neste processo eleitoral, que não se registava desde há mais de um século, deveu-se à recusa de cerca de 20 deputados do partido republicano em apoiarem McCarthy, que consideraram não ser suficientemente de direita. Trump, que tinha visto o seu prestígio político baixar por causa da derrota dos candidatos apoiados por ele nas eleições de novembro, de início pareceu satisfeito com esta manifestação de extremismo tão ao seu jeito.
Mas com a insólita situação a prolongar-se, Trump deve ter julgado que se arriscava a ganhar mais anticorpos no partido republicano que ele dominava até novembro; e apelou aos deputados extremistas que acabassem com o bloqueio. Na quinta-feira Trump previu que nesse dia seria alcançado um acordo entre McCarthy e os republicanos que o bloqueavam. Mas o acordo só seria obtido na noite de sexta para sábado. Ou seja, Trump já não parece dominar nem sequer os republicanos extremistas.
Para ser eleito McCarthy cedeu praticamente a todas as exigências dos radicais que o travavam. Será, assim, um fraco líder da maioria republicana e um fraco presidente da Câmara dos Representantes. As probabilidades de entendimentos entre republicanos e democratas naquele órgão legislativo, se à partida já eram escassas, tornaram-se quase nulas.
É um problema para a democracia americana. Mas que poderá ser compensado largamente se se confirmar que o partido republicano já não anda às ordens de Trump e que este não será reeleito em 2024.