Uma das mais sérias ameaças à vida democrática atual está na difusão de notícias falsas (as chamadas “fake news”) através das redes sociais. Boa parte dos utilizadores dessas redes não se interessa pela maior ou menor verdade da notícia – apenas conta, para eles, se a “notícia” corresponde ou não às suas convicções, seja ela verdadeira ou falsa.
Trump utilizou este método lamentável para ser eleito. No Brasil, Bolsonaro segue-lhe o exemplo, em larga escala. E as interferências russas nos processos eleitorais dos EUA e de países europeus igualmente recorreram às “fake news”.
Também circulam na internet notícias falsas alheias à política – para fins de promoção comercial, por exemplo. Mas a principal vítima das notícias falsas é o debate político democrático, que desaparece. Nada subsiste para debater quando as convicções são tão fortes que se alheiam da realidade. A noção de verdade deixa de valer. E as posições políticas polarizam-se em dois extremos que se ignoram, exceto para se insultarem.
Parece que entre nós o fenómeno ainda não atingiu grandes proporções, felizmente. Mas já existe e tende a aumentar, designadamente na área desportiva. E fala-se de uma fotografia de Catarina Martins, líder do BE, exibindo um relógio caro – só que a foto é falsa.
É chocante, porém, que um sindicato de polícias haja recorrido a este método. Incomodado com as críticas (justas) do ministro da Administração Interna à divulgação de fotografias autênticas da detenção dos três criminosos que fugiram de um tribunal no Porto e foram recapturados, esse sindicato da PSP utilizou imagens de idosos agredidos, sugerindo serem vítimas dos suspeitos que fugiram do tribunal. Ora as fotografias são de idosos agredidos no estrangeiro, que vários órgãos portugueses de informação identificaram. Um outro sindicato da PSP repetiu a falsa insinuação.
Os polícias devem manter uma imagem de autoridade, por muitas que sejam as suas queixas profissionais. Terem lançado mão de “fake news” só os diminui aos olhos dos portugueses.