O secretário-geral do PCP insistiu este domingo que é preciso fixar os preços dos bens essenciais, sem ceder à "chantagem" das "prateleiras vazias nos supermercados" feita por quem "nunca teve de enfrentar prateleiras vazias nos frigoríficos".
Neste atual quadro de subida da inflação, "os preços continuam a aumentar, a especulação é cada vez mais visível e há muito" que o PCP denuncia esta situação, afirmou o líder comunista, Paulo Raimundo, num almoço comício em Serpa, no distrito de Beja.
"Propusemos a fixação dos preços dos bens essenciais, em particular dos bens alimentares, e o que fizeram PS, PSD, Chega e Iniciativa Liberal? Votaram contra, todos unidos, uma e outra vez. É vê-los agora todos, aparentemente, preocupados e até de peito cheio sobre este problema", disse.
Paulo Raimundo voltou a defender que "é preciso avançar rapidamente para a fixação dos preços dos bens essenciais, em particular dos bens alimentares", porque esta "é a medida que trava a especulação" e "é um primeiro passo para uma importante melhoria na vida da ampla maioria" da população.
"Não vamos desistir desta luta, temos razão e temos os trabalhadores e as populações connosco nesta exigência", insistiu, reconhecendo que há quem diga que "esta medida levaria às prateleiras vazias no supermercado".
Um argumento que não passa de "chantagem, demagogia, hipocrisia, conversa de quem nunca teve que enfrentar esse problema que não é do futuro, mas que é um problema do presente", sustentou.
"Nunca teve que enfrentar as prateleiras vazias nos frigoríficos. É isso que passa hoje em dia na casa de muita gente e é isso que é preciso rapidamente ultrapassar", defendeu
"Ficou à vista a hipocrisia de uns, a cegueira neoliberal de outros"
Na sua intervenção, no almoço comício regional comemorativo do 102.º aniversário do PCP, realizado num pavilhão do Parque de Feiras e Exposições de Serpa, que contou com 'sala cheia', o líder comunista realçou que "a generalidade da população atravessa dificuldades", porque "os salários e as pensões não acompanham o aumento do custo de vida".
"Ainda na passada quinta-feira, no debate na Assembleia da República, um debate marcado pelo nosso partido, ficou à vista a hipocrisia de uns, a cegueira neoliberal de outros, todos na defesa daqueles que lucram com a especulação", disse, de 'armas apontadas' à "postura do PS, PSD, Chega e IL".
Mas, a última quinta-feira, segundo Paulo Raimundo, fica também "marcada" pelas "declarações de dirigentes do grupo Sonae, afirmando que a inflação não está a ser criada pela distribuição".
"Culparam tudo e todos. Foram os outros, foi a seca, foi chuva, só faltou culparem o 'Borda d'Água'. De resto, culparam tudo e todos, menos eles próprios", ironizou
Só que a verdade é que a grande distribuição, "à boleia do poder que tem no mercado, aumenta os preços de bens alimentares, sem qualquer controlo e bem acima da inflação".
"O peso da inflação está a ser suportado pelos produtores que vendem os produtos à distribuição e pelos consumidores que compram os produtos à distribuição, ou seja, a pobre da grande distribuição, que tantos sacrifícios faz por todos nós, come de um lado e come do outro", lamentou, também com ironia.
A decisão do Banco Central Europeu (BCE) de "voltar a aumentar as taxas de juro", pelo que "a banca faz mais um belo negócio", e a questão da habitação, que "ganhou centralidade, com direito a ministra de pasta e tudo, a um pacote de medidas do Governo e até a iniciativas do PSD", mas em que, "para lá do ilusionismo político", a banca e o negócio imobiliário passam "ao lado da resolução do problema", foram outra das críticas do líder do PCP.