Os números da mortalidade materna e infantil e de nados-mortos aumentaram em Portugal em 2018, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Uma realidade que Luís Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia, atribui em grande parte ao aumento da idade média das grávidas, que deverá obrigar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a uma “readaptação”.
“Há várias causas para que isso aconteça. A primeira de todas é a idade materna cada vez mais elevada, hoje é frequente que haja mulheres grávidas com 42, 43 ou 44 anos, o que não acontecia há 10 ou 15 anos. Em segundo lugar, as mulheres já são muitas vezes portadoras de doenças que vão complicar a gravidez, como diabetes e hipertensão arterial”, explicou à Renascença.
De acordo com o ginecologista e obstetra, “há uma série de fatores que têm de ser analisados um por um”, aos quais se somam também a obesidade materna, “uma grande causa de mortalidade perinatal”, salientou.
O aumento das mortes maternas não pode ser atribuído à “degradação do SNS”, salienta, mas tem de haver alterações que vão requerer meios e de verbas. Luís Graça pede que, nas situações de risco, o parto seja “obrigatoriamente” feito em “hospitais de apoio perinatal diferenciado, ou seja, hospitais de fim de linha”.
“Não podemos pensar que os hospitais periféricos e privados podem ter o mesmo tipo de patologias obstétricas que os hospitais que podem dar assistência imediata”, frisou. Para o médico, tem de haver “vontade política e regras”, que vão “prejudicar quem não quer que essas regras existam”.
Graça Freitas promete “conclusões preliminares” até final do ano
Também em declarações à Renascença, a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas mostra-se preocupada com o aumento das mortes devido a complicações durante a gravidez, o parto e o pós-parto. Em 2018 morreram em Portugal 17 mulheres, quando no ano anterior tinham sido nove.
Como já tinha sido prometido pela ministra da Saúde, Marta Temido, deverá haver resultados de uma investigação sobre o assunto até ao final do ano, levada a cabo por um grupo de estudo.
“Os primeiros resultados vão ser os de 2018, que é o ano que, de facto, está a preocupar-nos mais. Pensamos ter a recolha de dados completa no início de dezembro e depois ter uma análise interna, com os nossos médicos e peritos, e uma segunda análise externa, com peritos independentes, até ao final do ano. Pelo menos, contamos ter algumas conclusões preliminares”, garante Graça Freitas.
Graça Freitas revela ainda que o risco aumenta exponencialmente para as mulheres a partir dos 35 anos e que não há “um padrão” em termos de tipo de unidade de saúde relativamente às mortes destas mulheres.
“Temos dois óbitos na região autónoma da Madeira, pelo menos um em domicílio e dois outros em unidades hospitalares diversas, públicas e privadas. Sabemos também a idade materna: três das mulheres que morreram tinham mais de 40 anos e sete mais do que 35, idade a partir da qual se verifica maior risco”, detalhou.