O líder do CDS, Paulo Portas, considera "um sintoma de radicalismo" a afirmação do secretário-geral do PS que não viabilizará o Orçamento do Estado para 2016, caso a coligação PSD/CDS vença as eleições.
"Acho que esta declaração é uma tentativa de distrair atenções - e, por isso, é que é tão radical - relativamente ao que aconteceu no debate das rádios e que coloca um problema sério ao PS na área da política social e das pensões", afirmou Paulo Portas, logo no arranque do frente-a-frente com a dirigente do partido ecologista Os Verdes Heloísa Apolónia, transmitido pela TVI24.
Sublinhando que "o desespero nunca é bom conselheiro" e insistindo que depois do debate de quinta-feira nas rádios António Costa decidiu "radicalizar", o líder do CDS assegurou que nunca dirá que irá votar contra um documento que não conhece e que ainda nem foi apresentado.
"As pessoas não esperam de um candidato a primeiro-ministro que diga que se não ganhar as eleições vota contra um Orçamento que não conhece", enfatizou, considerando que a declaração de António Costa não é compreensível pelo eleitorado do centro, que pretende que os partidos conservem uma margem de manobra para chegarem a compromissos.
"Do nosso lado tem havido sempre disponibilidade para chegar a compromissos em áreas estruturantes", recordou.
Num debate `cordato`, apesar das diferentes soluções propostas, Paulo Portas e Heloísa Apolónia mostraram ao longo de 45 minutos algumas das principais diferenças entre a esquerda e a direita, com a dirigente do partido ecologista Os Verdes a confrontar o líder do CDS com episódios dos últimos quatro anos.
"Paulo Portas protagonizou uma das situações mais caricatas dos últimos anos", disse Heloísa Apolónia, referindo-se ao pedido de "demissão irrevogável" que Paulo Portas apresentou e que não se viria depois a concretizar.
Usando esta situação para exemplificar a importância da "palavra dada" e da credibilidade, Heloísa Apolónia fez ainda alusão às promessas eleitorais de há quatro anos de que não haveria cortes dos salários, nem aumento de impostos, recordando que o CDS-PP "autointitulava-se o partido dos pensionistas e dos contribuintes", mas depois subscreveu "um brutal aumento de impostos".
A saída do euro, liminarmente rejeitada por Paulo Portas, e as privatizações foram outros dos assuntos em debate, com Heloísa Apolónia a traçar um quadro negro do país, onde "a fome grassou", os novos empregos são precários e as pensões de "miséria".
"O nosso modelo económico tem como eixo central as pessoas", disse Heloísa Apolónia, contrapondo o modelo da direita que tem como eixo "o sistema económico e financeiro".
Quanto às nacionalizações, defendidas pelo PEV, Paulo Portas insistiu na ideia de que "o Estado não é bom proprietário, nem é bom gestor".
Já na recta final do frente a frente, o líder do CDS-PP e a dirigente de Os Verdes falaram sobre a emigração, com Heloísa Apolónia a reiterar que a coligação `teima` em mistificar a realidade e que meio milhão de portugueses foram obrigados a sair do país.
"Não vale a pena inflacionar os números", replicou Paulo Portas, estimando que o número de emigrantes seja de apenas 200 mil, já que existe muita "emigração temporária", onde por exemplo estão inseridos os alunos de Erasmus.
Apesar das divergências, o único momento do debate em que Heloísa Apolónia mostrou ficar algo agastada com Paulo Portas foi quando o líder do CDS-PP comparou Os Verdes a uma melancia: "O PEV é um pouco como uma melancia, verde por fora, vermelho por dentro", disse.