O documento final do Sínodo especial para a Amazónia, aprovado hoje no Vaticano, apresenta a Igreja Católica como “aliada” dos povos indígenas na defesa da sua vida e da sua terra.
“A Igreja compromete-se a ser aliada dos povos amazónicos, para denunciar os atentados contra a vida das comunidades indígenas, os projetos que afetam o meio ambiente, a falta de demarcação dos seus territórios, bem como o modelo económico do desenvolvimento predatório e ecocida”, refere o texto, aprovado em todos os 120 números pela maioria requerida de dois terços de votos favoráveis.
Os participantes no primeiro Sínodo dedicado à região da Amazónia – bispos católicos, missionários, religiosas e peritos convidados pelo Vaticano – sustentam que a defesa dos povos originários está “intrinsecamente ligada com a fé em Jesus Cristo”.
O documento apresenta preocupações em matérias como a biopirataria, o direito à água, a demarcação das terras e tudo o que diz respeito à “defesa da vida, da terra e das culturas originárias amazónicas”.
“Boa parte dos territórios indígenas estão desprovidos de proteção e os já demarcados estão a ser invadidos pelas frentes extrativistas, como a mineração e a extração florestal, pelos grandes projetos de infraestruturas, pelos cultivos ilícitos e os latifúndios que promovem o monocultivo e criação intensiva de gado”, alertam os padres sinodais.
O texto entregue ao Papa Francisco sustenta que a responsabilidade de demarcação e proteção da terra “é uma obrigação dos Estados nacionais e dos seus respetivos governos”.
Após três semanas de trabalho, o documento final pede uma Igreja “pobre, com e para os pobres, desde as periferias vulneráveis”, propondo a criação de ministérios ligados à proteção da natureza e ao acolhimento dos indígenas deslocados dos seus territórios para as cidades.
Outra proposta é a de um novo Observatório Sociopastoral Amazónico, para a defesa da vida, evocando as mulheres “vítimas de violência física, moral e religiosa”.
O Sínodo 2019 defende que a Igreja Católica tem uma oportunidade para diferenciar-se das “novas potências colonizadoras”, colocando-se ao lado dos mais fracos, como fizeram muitos “mártires” da Amazónia.
“A realidade pluriétnica, pluricultural e plurirreligiosa exige uma atitude de diálogo, reconhecendo igualmente a multiplicidade de interlocutores”, pode ler-se.
A situação da “juventude amazónica” merece a atenção de vários dos 120 pontos, com alertas sobre as dificuldades que enfrentam: pobreza, violência, doenças, prostituição infantil, exploração sexual, tráfico de drogas ou de órgãos, entre outras.
A nível interno, as comunidades católicas são convidadas a respeitar as “culturas e direitos dos povos”, recusando uma evangelização de “estilo colonialista” e valorizando a “teologia de rosto amazónico”.
A Igreja assume a intenção de criar redes de comunicação e de educação bilíngue, pedindo aos governos locais que tenham o mesmo objetivo.
O texto faz uma referência específica aos povos em isolamento voluntário e aos povos indígenas em isolamento e contacto inicial, para exigir que os Estados “assumam a defesa dos seus direitos, através da garantia legal e inviolável dos territórios que ocupam de forma tradicional”.