Um estudo liderado por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, publicado esta quinta-feira na revista 'Science', revela que as tartarugas em zoos são capazes de evitar os efeitos associados ao envelhecimento.
Em comunicado, o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBio) da Universidade do Porto salienta que através do estudo foi possível descobrir que as tartarugas, em particular as populações que são mantidas em condições controladas, "são capazes de exibir senescência [enfraquecimento e perda de capacidades com o avançar da idade] negligível ou mesmo negativa".
Para chegar a esta conclusão, os investigadores analisaram a informação demográfica - nascimentos e mortalidade - de populações de 52 espécies de tartarugas em zoos espalhados pelo mundo, tendo abrangido "uma grande variedade de tamanhos, longevidade e estratégias evolutivas".
"Os resultados mostraram que as tartarugas envelhecem, de facto, mais devagar", salienta o centro, dizendo que o estudo concluiu que 75% das tartarugas apresentaram senescência extremamente baixa e 80% valores abaixo dos humanos.
Depois de compararem as populações de tartarugas que vivem em meios naturais com as que vivem em condições controladas, acesso ilimitado a alimento e proteção contra predadores, a equipa de investigação concluiu que a "velocidade de envelhecimento é consistentemente maior nas primeiras".
Citada no comunicado, a primeira autora do estudo, Rita Silva, salienta que a explicação para a diferença pode residir na "maior disponibilidade para alocar a energia disponível em longevidade do que em encontrar alimento ou escapar a predadores"
"É importante salientar que, mesmo com taxas de senescência muito próximas de zero ou até negativas, estes indivíduos não são imortais e estão ainda sujeitos a causas de morte como doenças e predação", salienta a investigadora, acrescentando que o resultado "indica apenas que o risco de mortalidade não aumenta à medida que os anos passam".
O estudo mostrou ainda que, ao contrário da maioria dos mamíferos (nos quais se inclui a espécie humana), as tartarugas macho vivem, em média, mais tempo do que as fêmeas.
"Quando o oposto acontece, ou seja, em espécies em que a esperança média de vida das fêmeas é superior à dos machos, estas são geralmente maiores que os machos -- o que pode ser explicado pela sua capacidade de atrasarem a reprodução e, assim, ganharem alguma vantagem evolutiva", esclarece o centro da Universidade do Porto.
Para Rita Silva, este artigo "vem desafiar teorias evolutivas de envelhecimento", ao mostrar que as tartarugas "encontraram uma forma de desacelerar ou completamente escapar aos efeitos negativos de envelhecer".
"Para desvendar os segredos da longevidade precisamos ainda de mais estudos comparativos e em grupos filogenéticos historicamente menos estudados, como é o caso dos repteis", acrescenta a investigadora.