Ucrânia. Há 700 mil pessoas sem água potável e à beira de um surto de cólera
14-06-2023 - 06:30
 • André Rodrigues

Porta-voz das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários reconhece que a ajuda humanitária dirigida às zonas afetadas pelo colapso da barragem de Kakhovka não está a chegar a toda a população: "Fomos a uma cidade que tem mais ou menos 50 mil pessoas que não têm água potável. Só conseguimos ajudar cerca duas mil".

As Nações Unidas alertam para uma “tragédia humanitária” que cresce a cada dia na Ucrânia, por causa da destruição da barragem de Kakhovka que deixou inundadas vastas regiões no sul do país.

Em declarações à Renascença, a partir da cidade de Kherson, Saviano Abreu, porta-voz das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários reconhece que “a situação é realmente dramática” numa região que “já estava a sofrer muito com mais de um ano de bombardeamentos constantes”.

Com a rutura da hidroelétrica de Kakhovka, o rio Dniepre deixou de ser um aliado para passar a ser (mais) um problema sério para a segurança das regiões a sul do território ucraniano.

O principal problema, nesta altura, é a falta de água potável que já afeta cerca de 700 mil pessoas há praticamente uma semana.

“Ontem, por exemplo, fomos a uma cidade na região de Dnipro, que é vizinha daqui, e que tem mais ou menos 50 mil pessoas que não têm água potável”, exemplifica Saviano Abreu, enquanto reconhece que, nesta fase, não está a ser possível fazer chegar a ajuda humanitária a todas as populações afetadas.

Em 50 mil pessoas a necessitar de apoio urgente, “nós conseguimos levar água potável para cerca duas mil. Não é suficiente para ajudá-los, por isso a ajuda humanitária ainda precisa de aumentar, para que tenhamos a certeza de chegar a todas as pessoas”.

Cólera e outras doenças

Neste quadro, as equipas humanitárias alertam para um aumento exponencial do risco de aparecimento de doenças associadas à insalubridade, “como é o caso da cólera”.

O porta-voz das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários lembra que, “não muito longe daqui, na cidade de Mariupol já tivemos vários surtos de cólera”, durante o cerco à cidade por parte das forças russas.

“O Governo está preocupado, a Organização Mundial da Saúde está a trabalhar o Governo” e, já em abril, tinha sido enviado material médico e medicamentos para Kherson.

Perante a incerteza quanto à duração das cheias – numa altura em que o nível das águas continua a subir – Saviano Abreu reconhece que os surtos de doenças “são um risco grande”.

“Esperamos que não aconteça, mas com as cheias, com a falta de água potável, é um cenário que não podemos descartar”.

Acidentes com minas e explosivos podem aumentar

Por outro lado, este responsável fala de muitos milhares de pessoas deslocadas, a que se soma o crescente número de vítimas mortais.

Saviano Abreu diz, contudo, que não tem sido possível fazer a verificação exata dos números.

No entanto, as cheias criam outro problema à segurança das populações.

A guerra plantou milhares de minas nos terrenos e a situação é particularmente alarmante na região de Kherson.

Quando o nível das águas baixar, “as minas deslocam-se e o risco vai ser muito grande para as populações civis”.

“Já havia tinha dezenas de acidentes todos os meses… a situação pode piorar”, remata.