O diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais recorda o padre Dâmaso como um homem altruísta, capaz de ouvir e apoiar.
Foi durante um primeiro mandato, à frente deste organismo, entre 1994 e 2001, que Celso Manata acompanhou mais de perto o trabalho junto dos reclusos.
Em declarações à Renascença, Manata sublinha a capacidade de entrega do padre Dâmaso no acompanhamento dos detidos.
“Para todos nós, seres humanos, é importante o alimento espiritual. Quando se está preso é ainda mais verdade. Estamos mais sozinhos, não sabemos o que nos vais acontecer quando somos preventivos, há remorsos e, portanto, ter pessoas como o padre Dâmaso que dava uma palavra altruísta e desligada de qualquer interesse que não fosse ouvir as pessoas, compreende-las e dar-lhes uma palavra de apoio é muito importante para os presos. O que eu destacava mais da personalidade do padre Dâmaso era a entrega que tinha ao outro”, disse.
Celso Manata diz, ainda, que os valores defendidos pelo padre Dâmaso no acompanhamento dos presos, são também os que norteiam todos os que trabalham nos serviços prisionais.
“Qualquer pessoa que trabalhe no sistema prisional a primeira coisa que tem de fazer é tentar compreender a pessoa que está presa. Obviamente que temos de impor autoridade, impor regras mas a nossa missão não é apenas guardar pessoas, a nossa missão é tentar que a pessoa mude de atitude e que a pessoa saia com uma postura que seja mais adequada a viver em comunidade. Sendo esta a nossa missão, o trabalho do padre Dâmaso insere-se nesta forma de funcionamento: compreender o outro, tentar apoiar com uma palavra, tudo isto faz parte da missão de reinserção social”, refere.
A Renascença ouviu, também, o atual responsável pela pastoral penitenciária, da Conferência Episcopal Portuguesa.
O padre João Gonçalves destaca o testemunho de entrega ao outro que deixa o padre Dâmaso.
“Quando se fala do padre Dâmaso fala-se de prisões, fala-se de presos. Foi, de facto, um grande dinamizador, foi um homem que levou as prisões pela rádio a todos os cantos, falava de casos concretos, trazia a vida de sofrimento nas prisões muito ao de cima e falava como quem sentia, não falava de cor. Vivia quase como um pai. Era um homem que falava da palavra de Deus e fazia uma reflexão à volta”, refere.
Também ouvido sobre o padre Dâmaso esta noite foi uma das vozes que marca a história da Renascença: Ribeiro Cristóvão.
“Eu e o padre Dâmaso eramos amigos muito próximos e era uma amizade sincera e verdadeira. Unia-nos o espírito de estarmos a lutar pela mesma causa – a lutar pela Renascença -, a lutar pela verdade e o padre Dâmaso com as suas armas a lutar por muito mais coisas: a lutar por Cristo dentro e fora da Renascença, dentro e fora das prisões, junto das pessoas, convivendo com toda a gente da forma mais saudável e procurando transmitir amizade. O padre Dâmaso deixa um vazio muito grande em todos nós”.
O padre Dâmaso Lambers morreu esta quinta-feira, no Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa, aos 87 anos.
Fundou a Associação Confiar e foi um dos fundadores das
Aldeias SOS.
O corpo do padre Dâmaso estará em câmara ardente na Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, a partir das 16h00 de sexta-feira. O funeral é sábado às 10h30.