O Governo divulgou esta quinta-feira, em forma de publicidade nalguns jornais, os serviços de urgência com que as grávidas podem contar neste fim-de-semana de Natal. Nove maternidades vão estar de portas fechadas.
No entender do bastonário da Ordem dos Médicos, esta não é a forma mais correta de fazer chegar a informação aos cidadãos. Além disso, Miguel Guimarães diz que o plano chega tarde e a más horas.
“Eu acho que isto devia ter sido feito com mais tempo. Isto de fazer as coisas em cima da hora, e sobretudo a informação circular da forma que está a circular, com publicidade num jornal, ou mais que um jornal, não é de todo o mais desejável”, diz Miguel Guimarães, lembrando que sempre defendeu que “que as grávidas são pessoas que estão a gerar uma vida e é muito importante as pessoas terem tranquilidade, confiança, etc”.
“Esta instabilidade é uma situação que não favorece ninguém”, atira o bastonário dos Médicos em declarações à Renascença.
As críticas de Miguel Guimarães são partilhadas pelo presidente da Associação de Administradores Hospitalares. Xavier Barreto admite que o plano chegou tarde, mas diz que foi o possível, porque os serviços estão dependentes de médicos tarefeiros.
“Foi provavelmente a forma possível. Não é fácil realizar escalas, não é fácil, geralmente são feitas com pouca antecedência, particularmente quando estão dependentes de prestadores de serviço sobre os quais nós temos pouca informação, nomeadamente pela sua disponibilidade para assegurar os turnos nestes dias festivos. E, portanto, admito que provavelmente foi a antecedência possível”, refere.
Plano não dá estabilidade às grávidas
O presidente da Associação de Administradores Hospitalares admite que o cenário “não é o desejável, deveria ser comunicado com maior antecedência e provavelmente até através das equipas que acompanham aa grávidas e não necessariamente através de um jornal”.
Questionado sobre se isto dá a estabilidade necessária às grávidas, Xavier Barreto diz que “naturalmente que não, a resposta é óbvia, é quase senso comum, nós gostaríamos que isto fosse feito com muito maior antecedência e que fosse programado com muito mais antecedência”.
Já o diretor de obstetrícia do Hospital de S. Francisco de Xavier, em Lisboa, um dos que fecha já a partir de amanhã à noite, garante que este plano dá segurança às grávidas já internadas.
“Existe uma capacidade assistencial que estará reduzida, mas existe essa capacidade assistencial. Portanto, existe segurança para as grávidas que estão internadas, porque elas terão cá médicos que estão de serviço. A única coisa que vamos ter dificuldade vai ser no internamento das grávidas que podem necessitar de transferência”, diz Fernando Cirurgião.
Questionado pela Renascença sobre a eficácia da informação divulgada em cima da hora, diz que “[as grávidas] têm tido o canal, aquela página do SNS, onde podem consultar e onde têm consultado” que serviços estão disponíveis.
"Solução possível"
Para o coordenador da Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia/Obstetrícia e Bloco de Partos, Diogo Ayres de Campos, esta foi a solução possível neste momento. Já quanto à estabilidade ou falta dela, diz que só será conseguida quando houver mais profissionais.
“Acho que a estabilidade só é dada quando não houver encerramentos nos hospitais, mas aqui pelo menos permite saber quais são os hospitais que estão fechados. Se é a solução que queríamos, claramente que não.”
O responsável pelo grupo de trabalho para reorganizar a rede de maternidades assume que “cada encerramento de urgência de obstetrícia e bloco de partos implica preocupações grandes quer para os profissionais de saúde quer para as utentes”.
“No caso das mulheres que já estão em trabalho de parto impõe problemas enormes, porque transferir grávidas em trabalho de parto é sempre complicado e quando já estão em trabalho de parto avançado nem se podem da podem transferir por questões de segurança. Agora, neste momento, é melhor termos alguma previsibilidade e sabermos o que vai acontecer do que, acontecer como até agora, em que não havia qualquer previsibilidade”, acrescenta.
Sindicato critica "medida paliativa"
Em comunicado enviado às redações esta manhã, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) critica o plano de urgências para as festas, classificando-o como "uma medida pontual e paliativa".
"Muito embora se possa argumentar que esta medida pode dar alguma previsibilidade às utentes e manter o funcionamento de algumas destas urgências, a FNAM considera que ela é meramente pontual e paliativa, não podendo prolongar-se no tempo nem estender-se a outras valências dos serviços de urgência sob pena de serem adiadas as medidas de fundo que permitam resolver a situação", indica o sindicato.
"Com esta deliberação, a Direção Executiva do SNS vem reconhecer a forma precária de funcionamento de várias urgências de ginecologia e obstetrícia, assumindo a sua incapacidade para garantir a continuidade da sua atividade regular, e normalizando o encerramento de serviços, o que é totalmente inaceitável para a FNAM."
Reforma da rede arranca no início do ano
Diogo Ayres Campos acredita que no início do próximo ano já vai ser possível apresentar o essencial da anunciada reforma da rede de obstetrícia e maternidades.
“O que nós propusemos tem a ver com problemas de fundo. É preciso formar mais especialistas e é preciso criar condições para que eles não saiam para o setor privado”, antecipa.
E segundo o responsável “há aspetos organizativos que têm a ver com as urgências e com o número de pessoas que recorre às urgências de obstetrícia, que estamos a trabalhar com a direção executiva do SNS para tentar implementar, mas, de facto, são situações que demoram algum tempo a ter efeito”.
Em relação às urgências de obstetrícia e ginecologia e a soluções dentro dos cuidados de saúde primários e cuidados programados nos hospitais espero que no início de 20023 já tenhamos uma noma da Direção Geral da Saúde”, antecipa.
Sendo assim e com os médicos que estão disponíveis, a partir de amanhã e até segunda-feira vão estar fechadas as urgências de obstetrícia e os blocos de partos de cinco hospitais na área de Lisboa e Vale do Tejo: a do hospital São Francisco Xavier, Amadora Sintra, Vila Franca de Xira, Caldas da Rainha, e Setúbal. Também fechadas, mas apenas na noite de Natal vão estar as maternidades da Guarda e Abrantes e no dia de Natal, Beja e Santarém.
[atualizado às 11h12 com reação da FNAM]