"Gás lacrimogéneo" e "represálias". Milhares de viaturas voltam a bloquear Maputo
04-12-2024 - 09:32
 • André Rodrigues

Plataforma Decide acusa polícia de utilizar gás lacrimogéneo dentro de residências em Tete. Protestos condicionam acesso a hospitais. E há medo de represálias.

Os protestos desta quarta-feira em Moçambique estão a levar a polícia a dispersar manifestantes com balas de borracha e gás lacrimogéneo.

Contactado pela Renascença, o porta-voz da Plataforma Eleitoral Decide confirma que milhares de pessoas responderam a mais uma convocatória de Venâncio Mondlane para mais uma etapa de protestos contra o resultado eleitoral de 9 de outubro que deu a vitória à Frelimo.

Em Maputo “grande parte da Avenida do Trabalho, uma das mais largas avenidas da capital, está completamente parada. As pessoas parquearam lá as suas viaturas e não há circulação de carros”, conta Wilker Dias.

Na resposta, “há disparos e gás lacrimogéneo”, contrastando com uma atuação “mais contida” das autoridades noutros pontos da cidade, onde “tem havido uma espécie de negociação para que as pessoas afastem ou eliminem as barricadas”.

Já nas províncias de Tete e de Nampula, as barricadas estão a ser fortemente reprimidas pelas forças policiais “e há mesmo casos de uso de gás lacrimogéneo dentro de residências, nomeadamente em Tete”, acrescenta o responsável da Plataforma Decide.

Hospitais com acesso bloqueado e represálias

O reverso da contestação em Moçambique está nos constrangimentos à vida normal. “Quem quer chegar aos seus trabalhos tem de deixar o carro muito longe e isso é muito complicado, principalmente para quem vai dos bairros que ficam longe do centro de Maputo”, relata à Renascença Lídia Finiosse, uma residente na capital.

Contudo, o principal problema é o acesso condicionado a serviços críticos, como os cuidados de saúde: “há mulheres grávidas que não têm como chegar ao hospital, caso passem mal, sobretudo naqueles casos em que o hospital fica muito longe de casa”.

Nas ruas, “há lojas que não abrem com o receio de serem vandalizadas. E também há muito oportunismo de pessoas que criam portagens e cobram valores para deixar os automobilistas passar”, denuncia esta moçambicana.

Lídia Finiosse diz, por outro lado, que há receio de represálias contra quem não adira aos protestos da oposição: “as pessoas sentem receio pela sua integridade física”.

“Se uma pessoa não fixa um cartaz na sua viatura, eles fazem molduras humanas e, quando a pessoa passa sem buzinar, sem colocar o carro em modo de emergência, as pessoas sofrem represálias, quebram-lhes os vidros dos carros”, denuncia.

Desde 21 de outubro, Moçambique vive em clima de forte contestação ao processo em torno das eleições gerais de 9 de outubro, com paralisações consecutivas e confrontos com a polícia.

Em causa o facto do candidato presidencial Venâncio Mondlane não aceitar os resultados anunciados da votação, que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.

[notícia atualizada às 10h40]