Jesuítas lançam novo portal de comunicação
20-02-2018 - 19:32
 • Ângela Roque

Promover o diálogo no espaço público “sem crispação”, e de forma aberta e construtiva, é o objetivo do Ponto SJ. O novo espaço de reflexão e opinião na internet conta com mais de 30 colaboradores nas áreas da política, justiça, educação, cultura e fé.

O novo portal dos jesuítas na internet vai começar a funcionar a partir da próxima sexta-feira, dia 23 de Fevereiro. Para além de divulgar o que fazem as várias instituições ligadas à Companhia de Jesus, o Ponto SJ pretende sobretudo contrariar o tom extremado e agressivo com que hoje se comunica, sobretudo nas redes sociais. Para isso conta com a colaboração de mais de 30 personalidades que ao longo do próximo ano irão alimentar o portal com artigos de opinião e reflexões diárias.

Em entrevista à Renascença o diretor de comunicação dos jesuítas, padre José Maria Brito, fala da importância deste novo projeto para mostrar que o diálogo entre quem pensa diferente é possível e é fundamental para evitar as “conversas de surdos” a que tantas vezes se assiste na política, no desporto, e até na religião.

O que é o Ponto SJ?

O Ponto SJ é o novo portal dos jesuítas em Portugal, através do qual será possível aceder aos diferentes sites de diferentes obras e instituições ligadas à Companhia de Jesus, desde os centros universitários, como o CUPAV aqui em Lisboa, à ONG Leigos para o Desenvolvimento, todos vão passar a ter os seus sites agregados neste portal na internet.

Como é que nasceu esta ideia?

Quando há uns anos começámos a refletir sobre estas questões de comunicação, e o modo como estamos presentes no espaço digital, verificámos duas coisas: a dispersão da nossa comunicação, e a necessidade que havia de criar um espaço que pudesse agregar as nossas diferentes propostas de diferentes obras, educativas, sociais, universitárias, de cultura ou de espiritualidade. Por outro lado, percebemos que também era necessário mudar o modo como comunicamos, de uma comunicação mais institucional para uma comunicação mais baseada naquilo que propomos e no modo como pensamos e olhamos para o mundo. Por isso, este Ponto SJ será muito um espaço de intervenção e de reflexão. Teremos diferentes secções, fé, política, educação, justiça e cultura, cada uma delas com diferentes colaboradores, alguns figuras públicas, outros menos conhecidos, mas ligados à investigação e à reflexão, e que diariamente darão a sua contribuição.

O portal irá ser alimentado todos os dias com artigos?

Exatamente. O prato forte do portal será esta parte de opinião e de reflexão, e por isso todos os dias haverá um conteúdo de opinião diferente de uma das nossas cinco secções. Haverá ainda outro tipo de propostas que vamos também deixar, pode ser uma entrevista, o perfil de alguém significativo ou um ensaio de um convidado especial, que não faça parte do rol dos nossos 30 colabores. Por isso, todos os dias haverá propostas diferentes para ajudar as pessoas a aprofundar o modo como olham para o mundo, a discernir a realidade e todas as controvérsias que possa haver no espaço público, mas procurando que o tom seja sempre de diálogo, de abertura, uma forma de estar no espaço público menos crispada e com mais capacidade de abertura a realidades distintas, e também à diferença.

Porque é que essa é uma das preocupações do projeto? É preciso ensinar as pessoas a conversar sem se agredirem, como se assiste muitas vezes nas redes sociais, nomeadamente no Facebook?

O Facebook é só um dos exemplos, mas se tivermos um olhar um bocadinho mais largo para tudo o que é a realidade social, desde o futebol à política, vemos que muitas vezes o que há são “conversas de surdos”. Queremos dar o nosso contributo para que possa acontecer no espaço público uma forma de estar em que as pessoas sejam capazes de procurar compreender pontos de vista distintos sem perder a capacidade de escuta. Um diálogo que não implique renunciar àquilo que são pontos de partida importantes, e fundamentais para que cada um possa enraizar o seu modo de estar e de perceber a realidade, mas que também implique abertura àquilo que é diferente. É preciso dialogar sem ter imediatamente uma atitude defensiva, de jogar à defesa. Isto é importante para qualquer espaço…

Na Igreja também?

Creio que num espaço de Igreja isto é especialmente significativo, porque muitas vezes há esta tentação mais de construir muros do que ser capaz de criar espaços que possam ser pontes em que as pessoas realmente se encontrem verdadeiramente umas com as outras.

Este é um projeto dos jesuítas, mas não pretendem chegar só aos católicos ou só a quem tem fé?

Não, queremos chegar a diferentes públicos. O espaço pretende ser plural na presença de pessoas de diferentes movimentos e perspetivas dentro da própria Igreja, e ao mesmo tempo aberto a pessoas que não estando tão ligadas à Igreja possam ter interesse em conhecer modos diferentes de olhar para a realidade, encontrar pontos de contacto, e eventualmente também pontos de diferença. Queremos ter essa abertura.

Quem são e quantos vão ser os colaboradores?

São ao todo 30, uns mais conhecidos que outros. Por exemplo, na área da cultura temos o Jacinto Lucas Pires, escritor, na área da política Guilherme d'Oliveira Martins, na justiça Joana Rigato, que já esteve ligada à Comissão Nacional Justiça e Paz. Isabel Allegro Magalhães, professora universitária, é outra colaboradora. A irmã Irene Guia, na área da justiça, na educação temos o professor Joaquim Azevedo, que já foi Secretário de Estado e tem estado muito ligado a processos de inovação educativa. Serão estes 30 que vão escrever com regularidade neste primeiro ano de atividade do portal, mas outras pessoas poderão colaborar, pontualmente, mediante os assuntos que a atualidade nos traga.

Quando é que o Ponto SJ começa a funcionar?

O Ponto SJ nasce na próxima sexta-feira, dia 23, no próprio dia em que vai ser apresentado. Na manhã desse dia lançaremos o portal a quem podem aceder em www.pontosj.pt, mas se lá forem antes já podem assinar a nossa Newsletter. Também podem ir espreitando as notícias sobre o portal na página dos jesuítas no Facebook, em https://www.facebook.com/jesuitasemportugal/

Espero que as pessoas se sintam interpeladas a este convite de conversarmos de um modo diferente e contribuir para um espaço público que possa ser um “clima temperado”, como também assumimos no nosso estatuto editorial, em que a conversa e o diálogo sejam possíveis e em que não queiramos jogar à defesa uns com os outros, mas que nos possamos realmente dispor a escutarmo-nos uns aos outros.

Onde é que vai ser feito o lançamento, e o que é que está previsto?

O lançamento vai decorrer dia 23, no Teatro da Comuna, às 18 horas, e vamos ter em palco dois “encontros improváveis”, mas com esta atitude de diálogo que queremos gerar, o esforço de me colocar no lugar do outro, e de partir do princípio que o outro pode estar numa conversa de boa fé.

Serão quatro participantes, juntos a pares. O primeiro é constituído por Júlia Bacelar, das irmãs adoradoras, que trabalha com mulheres em situação de risco, e pela deputada europeia do Bloco de Esquerda Marisa Matias. Do encontro entre as duas sairá uma reportagem que será apresentada no dia do lançamento, e elas próprias falarão dessa sua experiência.

O outro par é constituído pelo cronista e jornalista João Miguel Tavares, que também tem uma experiência de vida como pai e como homem de família, e pelo padre jesuíta Francisco Mota, que está neste momento ligado a um projeto de lançar um centro cultural em Lisboa, ligado à Companhia de Jesus, e que dará a perspetiva de um padre ligado à área da cultura. Também aqui a mesma dinâmica de encontro dá origem a uma reportagem, em que cada um deles tenta perceber como é que se olha o mundo a partir da perspetiva do outro.

Vai ser interessante, e deixo o convite a que assistam.