Alcochete e Vendas Novas são as duas localizações viáveis para o novo aeroporto de Lisboa e Alcochete é a "solução com mais vantagem", revelou esta terça-feira a Comissão Técnica Independente (CTI), na apresentação das conclusões de um estudo pedido pelo Governo.
"A solução com mais vantagem para um hub intercontinental é o aeroporto Humberto Delgado + Alcochete, até abrir o aeroporto único em Alcochete. Outra solução viável é Humberto Delgado com Vendas Novas", revelou Maria Rosário Partidário, coordenadora da CTI.
"Alcochete tem mais vantagem porque é um espaço público, Vendas Novas envolve expropriações e está mais distante de Lisboa", sublinha a responsável.
O relatório da Comissão Técnica Independente (consulte em formato PDF) defende que, numa primeira fase, o atual Aeroporto Humberto Delgado, na Portela, deve coexistir com o novo aeroporto.
"A nossa recomendação é que se inicie uma opção por um modelo dual. Um modelo dual é inevitável porque o Aeroporto Humberto Delgado só pode fechar quando houver uma pista com capacidade de o substituir e isso vai levar algum tempo. Portanto, a solução dual é inevitavelmente a solução que terá que avançar em primeiro lugar", declarou Maria Rosário Partidário.
Para que a primeira pista de Alcochete esteja operacional, terão que passar 7 anos, estimam os estudos realizados.
A especialista sublinha ainda que existe potencial para a construção de um hub intercontinental em Portugal, dada a localização do país no contexto atlântico. Contudo, um hub precisa de espaço e “funciona melhor como aeroporto único”, porque há trocas de passageiros entre voos.
A estratégia passa assim, no curto prazo, por uma "opção dual, mas com um aeroporto complementar desejavelmente no local onde depois possa vir a tornar-se aeroporto único, com capacidade de expansão".
Alcochete fica em primeiro lugar em três dos cinco critérios
A CTI avaliou cinco critérios fundamentais. A solução Alcochete (isolado ou com a Portela) surge em primeiro lugar em três dos critérios e em segundo lugar em dois.
No critério de Saúde Pública, Vendas Novas aparece em primeiro lugar e Alcochete em segundo.
Em relação à Segurança Aeronáutica, Alcochete é o melhor classificado, seguido de Vendas Novas.
Quanto ao critério da Conectividade e Desenvolvimento Económico, a solução Portela+Alcochete é a preferida. Em segunda posição surgem as soluções Portela+Santarém e Portela+Vendas Novas.
Na Acessibilidade e Território, Portela+Montijo ficou na primeira posição, na avaliação feita pela CTI, e Portela+Alcochete alcançou a segunda posição.
Finalmente, no critério do Investimento Público e Modelo de Financiamento, Portela+Alcochete fica em primeiro lugar, Portela+Santarém e Portela+Vendas Novas em segundo.
A CTI considera que uma localização em Poceirão e Rio Frio é inviável do ponto de vista ambiental, enquanto Santarém tem um problema de navegação aérea e de distância para Lisboa.
Já o Montijo recebeu uma classificação inferior a Alcochete por razões aeronáuticas e ambientais. O fator económico também pesou. Segundo Rosário Partidário, a construção naquele local permite "apagar um fogo, mas não tem lastro do ponto de vista do longo prazo”.
“Do governo [não recebemos] nem uma pressão”
O relatório da CTI vai estar em discussão pública durante 30 dias.
Será o novo Governo, saído das eleições antecipadas de 30 de março de 2024, a tomar a decisão final sobre a localização do novo aeroporto.
O documento que foi apresentado esta terça-feira no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), começou a ser elaborado em novembro de 2022 e resulta da participação de 130 especialistas, referiu Maria do Rosário Partidário. O processo de consulta pública "envolveu mais de 30.000 participantes e mais de 135.000 opiniões", segundo números apresentados pela CTI.
Rosário Partidário fez questão de vincar a independência do trabalho realizado pela comissão, realçando que não esteve sujeita a qualquer “tutela política ou administrativa”. “Do governo [não recebemos] nem uma pressão”, garantiu.
A CTI analisou nove opções para a construção do novo aeroporto: Alcochete, Portela + Montijo, Montijo + Portela, Portela + Santarém, Santarém, Portela + Alcochete, Portela + Pegões, Rio Frio + Poceirão e Pegões.
O relatório apresentou as vantagens e desvantagens de cada uma, mas a decisão sobre a nova localização é política.
Na apresentação do estudo, o primeiro-ministro demissionário, António Costa, declarou que vai deixar a decisão sobre a localização do novo aeroporto nas mãos do próximo Governo, saído das eleições antecipadas de 10 de março de 2024.
"O relatório não será um presente de Natal, mas um bom ovo da Páscoa para o próximo governo", declarou.
Para António Costa, o aeroporto Humberto Delgado “está esgotado” e já ninguém duvida da necessidade de “aumentar a capacidade aeronáutica da região de Lisboa”.
O primeiro-ministro admite que "nunca haverá uma solução que gere unanimidade", mas agora foi encontrada uma metodologia consensual para ajudar a definir a localização do novo aeroporto.