Como se previa, o Banco Central Europeu (BCE) não subiu ontem, quinta-feira, os seus juros diretores. Esses juros tinham subido dez vezes sucessivas, desde julho do ano passado.
Esta paragem na subida dos juros do BCE explica-se, antes de mais, por a inflação na zona Euro ter baixado, embora se encontre ainda longe dos desejados 2%. Em setembro essa inflação caiu para 4,3%, o nível mais baixo desde outubro de 2021.
Por outro lado, a economia da zona Euro está perto da recessão, que agora o BCE procura evitar. A situação no Médio Oriente também influenciou no sentido de não subir os juros; o barril de petróleo Brent estava ontem, quinta-feira, ligeiramente abaixo de 90 dólares – mas o conflito de Israel com o Hamas poderá agravar o preço do “crude”.
O BCE parar a subida dos juros não é descer juros. Os agentes económicos, como as famílias, devem contar que tão cedo não haverá descidas de juros do BCE, que continuarão elevados.
Portugal procura que não subam as taxas de juro que paga no mercado pelos seus empréstimos, juros que variam ao longo do dia e de dia para dia. Esse é o objetivo das “contas certas” – não é agradar ao BCE, ou à Comissão Europeia ou a outra entidade qualquer, é tranquilizar os investidores que nos emprestam dinheiro que Portugal pagará.
Para alguma coisa serviu o susto de 2011, quando Portugal só evitou a bancarrota por ter entrado no país a “troika” (BCE, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional). Trata-se de uma experiência que os portugueses e sobretudo os socialistas procuram não repetir, até porque o nosso país precisará durante largos anos de recorrer ao crédito externo.
Ora desde há muito que, no mercado da dívida, os juros da dívida portuguesa se mantêm relativamente baixos. Ontem, quinta-feira, por exemplo, os juros exigidos ao nosso país em empréstimos a dez anos situavam-se a 3,6%, que é mais do que paga a Alemanha, mas menos do que pagam a Espanha, a Itália ou o Reino Unido.
Significa isto que o mercado tem confiança na capacidade de Portugal honrar os seus compromissos, isto é, acredita que o país pagará os seus empréstimos e por isso não exige juros muito elevados.