A desagregação mental de um homem de 50 e poucos anos que é atirado para o desemprego, constitui o centro da peça "Morte de um caixeiro viajante" que os Artistas Unidos (AU) estreiam esta sexta-feira em Portalegre.
Escrita por Arthur Miller, em 1949, e estreada em Nova Iorque um ano ano depois, a peça que hoje sobe ao palco do Centro de Artes e Espetáculos de Portalegre tem tantos anos quantos os de Jorge Silva Melo, diretor do AU, que a encena.
"É uma peça extraordinária que tem a minha idade" e que foi aplaudida pelo público nova-iorquino quando o dramaturgo "começava a dar os primeiros passos", acrescentou o encenador à Lusa.
A peça centra-se em Willy Loman, um caixeiro-viajante de pouco mais de 50 anos que deixa de ter salário, começa a receber à comissão e que é atirado para o desemprego por não ser produtivo. "Porque este país não é para velhos", sublinhou Jorge Silva Melo à Lusa.
Estreada no pós-guerra nos Estados Unidos, "Morte de um caixeiro-viajante" constituiu uma "grande surpresa" porque a América era considerada o "paraíso das liberdades e do sucesso individual".
"E aqui é do fracasso que se fala. Do fracasso e da mentira, porque dentro daquela família toda a gente mente", acrescentou Jorge Silva Melo.
"Os filhos mentem porque dizem que estão bem e não estão, a mãe mente porque diz que está mais ou menos resolvida a sua economia caseira, e não está, está cheia de dívidas, e o pai diz aquela coisa "passamos a vida a pagar uma casa e quando finalmente a pagamos já não há ninguém para viver lá dentro"", acrescenta.
"Morte de um caixeiro-viajante" é, pois, uma peça sobre uma sociedade endividada com personagens inesquecíveis, que mantém a atualidade.
Prevista para subir ao palco dos teatros nacionais D. Maria II e do S. João -- que a produzem com os Artistas Unidos -, "Morte de um caixeiro viajante" poderá ser vista no Centro Cultural de Belém de 06 a 08 e de 11 a 15 de agosto, numa substituição da temporada no D. Maria II.
Teatro Municipal da Guarda (14 de maio), Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima (21 de maio), Theatro Circo, em Braga (28 de maio), no Centro Cultural do Cartaxo (04 de setembro), Teatro Municipal de Bragança (16 de setembro) são alguns dos locais onde a peça estará em digressão.
A peça também deverá ir ao Teatro Municipal de Portimão, em data a definir.
Com tradução de Ana Raquel Henriques e Rui Pina Coelho, a peça tem interpretações de Américo Silva, Joana Bárcia, André Loubet, Pedro Caeiro, Pedro Baptista, José Neves, Paula Mora, Tiago Matias, Sara Inês Gigante, Vânia Rodrigues, António Simão, Hélder Braz e Joana Resende.
A cenografia e os figurinos são de Rita Lopes Alves, o som, de André Pires, a luz de Pedro Domingos e a assistir na encenação estão Nuno Gonçalo Rodrigues e Joana Resende.